Investigadores portugueses e internacionais reúnem-se em Lisboa a partir desta quarta-feira na conferência anual sobre Arqueologia Histórica e Subaquática para debater a globalização europeia iniciada pelo Império Português, com as trocas de mercadorias e população, mas também a escravatura.

A 56.ª Conferência Internacional sobre Arqueologia Histórica e Subaquática é a primeira a realizar-se na Europa continental e terá lugar desta quarta feira a 07 de janeiro na Universidade Nova.

Sob o tema “Revisitando arqueologias globais”, o encontro vai juntar investigadores e académicos portugueses e internacionais, maioritariamente de instituições norte-americanas, mas também de países como Canadá e Dinamarca.

Como descreve a página do evento, “Lisboa é uma das cidades historicamente mais interessantes da Europa e foi a capital de um grande império ultramarino de meados do século XV até ao final do século XVII”.

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Foi nessa condição de primeiro império global da História que foi “diretamente responsável por iniciar (a partir de 1415) a globalização europeia que define o nosso período, e as suas influências, incluindo o início das trocas de mercadorias e movimento das populações fundamentais para a nossa disciplina  como também o início da escravatura nas plantações de açúcar do Atlântico Sul”.

Também o terramoto de 1755 tem um papel fundamental neste encontro, na medida em que conduziu a uma reconstrução da cidade de Lisboa, que a deixou “com uma das mais importantes paisagens urbanas do século XVIII na Europa”.

“A História registada da cidade remonta ao período romano e o tecido urbano da cidade inclui vestígios da cidade romana até aos desenvolvimentos industriais do século XIX”, descrevem os organizadores no programa, destacando como pontos de referência a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e o Castelo de São Jorge.

O tema da conferência, “Revisitando Arqueologias Globais”, referisse não só à localização e às perspetivas internacionais do encontro, com base na “História de Lisboa como centro de um dos mais significativos impérios europeus globais do início do período moderno”, mas também ao “reconhecimento da transformação da arqueologia histórica numa verdadeira disciplina global”, destacam.

Os organizadores preveem que este tema “encorajará trabalhos e simpósios individuais que abordem o caráter cada vez mais global da disciplina no passado, presente e futuro, bem como temas de movimento e diáspora, e de industrialização e mecanização”.

“Muitos arqueólogos europeus também definem a arqueologia histórica de forma diferente, notando que o registo histórico data de períodos anteriores, pelo que esta conferência pode proporcionar a oportunidade de explorar definições disciplinares num contexto global, enquanto se foca no mundo pós-1500”, acrescentam.

O primeiro dia da conferência será dedicado a uma série de ‘workshops’ e passeios temáticos pela “Lisboa Arqueológica”, “Lisboa Medieval”, “O Melhor de Belém” e “Sintra Medieval”.

Os ‘workshops’ serão dedicados aos temas “Ilustração Arqueológica  Por que devemos aprender técnicas tradicionais?”, “Do oriente para a Europa: cerâmica oriental em contextos ocidentais”, “Ouro sobre Azul: Uma visão geral dos azulejos portugueses, produção, temas decorativos, cronologias e difusão” e “Sensibilização para os recursos culturais submersos”.

Os dias 05 e 06 serão dedicados a uma série de “almoços mesas-redondas”, os primeiros dos quais subordinados aos temas “Análise geoquímica da cerâmica”, “Interromper o racismo e o sexismo na arqueologia”, “Museus vivos no mar”, “Repatriação, reparação e reclamação” e “Publicação para investigadores e alunos em início de carreira”.

Os temas das mesas-redondas de dia 06 são “Património cultural marítimo e a década da ciência dos oceanos da ONU para o desenvolvimento sustentável”, “Coleções e curadoria”, “A mentalidade do criador para a arqueologia do século XXI: Desenvolvendo especialização técnica para a gestão de recursos culturais modernos”, “Imaginar o futuro da arqueologia do trabalho sexual” e “Converter pensamentos em ação sobre alterações climáticas”.