Só o local do acidente, Devil’s Slide, faz desde logo temer o pior. A bela e retorcida estrada ao longo da costa do Pacífico, que leva os californianos de Los Angeles para São Francisco, tem vistas magníficas, mas os penhascos até ao nível do mar impõem respeito e já ceifaram muitas vidas àqueles que têm o azar de se despistar e cair em direcção às rochas. Foi o que aconteceu a 3 de Janeiro à família do médico Dharmesh Patel, que conduzia um Tesla Model Y, produzido mesmo ali ao lado, em Fremont, na companhia da sua mulher e dois filhos.

Se somarmos a velocidade do veículo aos 80 metros que se seguiram em queda livre, rumo às rochas que o aguardavam no fundo do Devil’s Slide, é fácil perceber que o SUV tenha ficado praticamente destruído, deformando-se para absorver a energia do brutal impacto, de forma a reduzir as forças a que os ocupantes foram submetidos (veja aqui a reportagem da CBS).

“Há bastantes acidentes naquela zona e a única coisa que podemos fazer é ir lá abaixo e recuperar os cadáveres, pois nunca há sobreviventes”, declarou à imprensa local o bombeiro Brian Pottenger, chefe de batalhão do Cal Fire. Felizmente, desta vez foi diferente. “Vimos com binóculos lá de cima que havia movimento dentro do carro, pelo que no mínimo tínhamos um sobrevivente”, recordou Pottenger. Afinal todos sobreviveram, com ferimentos, mas nenhum com gravidade (as imagens da Fox dão uma ideia mais concreta sobre a altura do penhasco).

Até aqui, este episódio tinha todos os condimentos para uma história de sucesso, uma vez que a família de quatro, apesar do susto, tinha saído praticamente ilesa. Para a Tesla, o acidente foi igualmente um bom exercício de relações públicas, uma vez que o Model Y conseguiu proteger a vida dos seus ocupantes, apesar de dificilmente se aproveitar uma peça. Até alguns dos bombeiros presentes, como Brock Sommerset, publicaram nas redes sociais comentários em que afirmavam que, depois deste acidente, estavam seriamente a pensar comprar um Tesla.

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O organismo europeu Euro NCAP já tinha anteriormente certificado o veículo como um dos mais seguros, mais do que as cinco estrelas, atribuindo-lhe 97% na protecção de ocupantes adultos. Contudo, mergulhar em Devil’s Slide não figura entre os crash-tests normalizados, pelo que é uma daquelas situações muito mais violentas, em que ninguém adivinha qual será o resultado. Mas depois surgiu a (má) surpresa, uma daquelas que talvez nem Alfred Hitchcock se lembraria.

As investigações iniciadas logo após o sinistro levaram a polícia a suspeitar que se tratou de um acto intencional, em que o condutor levou o veículo a sair da estrada naquela curva, uma das mais perigosas, visando suicidar-se e matar a família. O próprio hospital onde trabalha Patel congratulou-se 24 horas depois pelo facto de o seu “médico e respectiva família terem sobrevivido ao acidente”, mas recusou-se a “responder a mais perguntas, uma vez que o caso está sob investigação”. A polícia avançou ainda que “Patel será transportado para a prisão do condado de San Mateo, assim que tiver alta do hospital”.

Se a suspeita que recai sobre o condutor estragou o que parecia ser um final feliz para um terrível acidente, pelo menos o despiste (real ou simulado) em Devil’s Slide veio confirmar a notável evolução da indústria automóvel, especificamente na capacidade de proteger os ocupantes em caso de embate violento. E não haverá acidentes muito mais violentos do que este.