O embaixador do Irão em Lisboa exortou esta terça-feira os países europeus a abordarem a situação naquele país “de forma imparcial”, depois do governo português lhe ter transmitido o “repúdio” pelas mais recentes execuções, na sequência dos protestos antigovernamentais.

“Embora rejeitando as declarações intervencionistas deste país nos assuntos internos do Irão, [o embaixador iraniano em Lisboa] exortou os países europeus, incluindo Portugal, a abordarem os acontecimentos de forma imparcial, evitando negociações seletivas e politicamente motivadas“, destacou a Embaixada do Irão em Lisboa, numa nota divulgada na rede social Twitter.

O regime iraniano transmitiu ainda ao governo português, segundo a mesma nota, que critica os “mesmos países” de “ignorarem o flagelo e assassinato diário de mulheres e crianças nos territórios ocupados da Palestina, Iémen, Afeganistão, entre outros países, provocado por eles próprios“.

O governo português chamou esta terça-feira novamente o embaixador do Irão em Lisboa para transmitir “a mais firme condenação e repúdio” pela execução de mais dois cidadãos iranianos, na sequência dos protestos que assolam aquele país desde setembro.

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“O Embaixador iraniano em Lisboa [Morteza Damanpak Jami] foi hoje, 10 de janeiro, novamente chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi-lhe transmitida a mais firme condenação e repúdio do Governo português pela execução de mais dois cidadãos iranianos, Mohammad Mehdi Karami e Seyed Mohammad Hosseini, os quais participaram nos protestos em curso no Irão desde setembro”, lê-se num comunicado do ministério tutelado por João Gomes Cravinho.

“O governo português manifestou igualmente profunda preocupação com o facto de outros cidadãos iranianos terem, entretanto, sido condenados à pena capital naquele país. Portugal reitera a sua incondicional oposição à aplicação da pena de morte em todas as circunstâncias”, acrescenta-se no documento.

Morteza Jami já tinha sido chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português a 29 de setembro de 2022, dia em que o diretor-geral de Política Externa (DGPE) do MNE, Rui Vinhas, expressou a condenação de Lisboa pelo “uso desnecessário e desproporcionado da força contra manifestantes pacíficos”.

Com a chamada do embaixador em Lisboa, Portugal junta-se a grande parte da comunidade internacional, sobretudo ocidental, que também tem condenado as prisões, sentenças de penas de morte e execuções de manifestantes que protestam contra o regime teocrático do aiatola Ali Khamenei.

Os protestos e manifestações foram desencadeados na sequência da morte, a 16 de setembro de 2022, da jovem curda Mahsa Amini, detida três dias antes pela polícia dos costumes por suposto uso indevido do hijab, o véu islâmico, violando desta forma o rígido código de vestuário imposto pelo Irão.

Nos últimos dias, Estados Unidos, União Europeia (UE) e mais de uma dezena de países europeus também chamaram os embaixadores ou encarregados de negócio iranianos para protestar e condenar a repressão imposta pelas autoridades iranianas.

O Irão soma já 18 condenações à morte e quatro execuções desde que se iniciaram os protestos.

Além disso, a forte repressão policial para tentar impedir as manifestações fez até agora mais de 500 mortes e quase 20.000 detenções em todo o país.

A União Europeia aprovou já três pacotes de sanções contra o Irão pelas execuções e pela repressão sobre os manifestantes.