A mulher do secretário da Agricultura do Governo dos Açores abdicou do cargo, ganho por concurso público, de diretora de serviços na tutela do marido, rejeitando a “suspeição falsa de privilégio”, revelou esta quarta-feira a própria à agência Lusa.

Não tenho apego a cargos ou dirigismo. Tenho apego ao meu prestígio profissional. Por ele, e só por ele, abdico do lugar a que me candidatei por concurso, não tendo até ao momento aceite a nomeação, nem assinado o termo de posse”, disse à agência Lusa Fernanda Ventura.

Numa posição escrita, a engenheira zootécnica acrescenta que a sua carreira profissional foi “sempre pautada pelos valores de lealdade, diligência, competência e brio” e defende que aquela “não foi uma nomeação de confiança pessoal ou política”.

Cargo de direção ganho por mulher de governante dos Açores gera polémica. “Concurso não estava limitado por ser esposa”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em 27 de dezembro, foi publicado em Jornal Oficial a nomeação de Fernanda Ventura para diretora dos Serviços de Apoio ao Investimento e à Competitividade, integrados na Direção Regional do Desenvolvimento Rural, tutelada pela Secretaria da Agricultura e Desenvolvimento Rural do Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM), liderada por António Ventura.

A nomeação surge depois de um concurso público, tendo o júri considerado que Fernanda Ventura tinha o “perfil exigido para o desempenho das funções inerentes ao cargo”, segundo o despacho.

Fernanda Ventura, que é técnica superior na Direção Regional do Desenvolvimento Rural desde 20 de outubro de 2010, afirma que “nunca misturou a vida pessoal ou institucional com a isenção e imparcialidade” das suas decisões profissionais.

A especialista em Tecnologia Leiteira “repudia as insinuações ou ataques de caráter”, independentemente de “quem quer que seja”, e realça que “nunca teve interesse ou motivação para a carreira política”.

“Acredito no princípio republicano de que ninguém deve ser nem privilegiado nem favorecido por raça, género, crença ou parentesco. O mesmo princípio defendo, e que também acredito, com a mesma intensidade, de que ninguém deve ser prejudicado pelas mesmas razões”, assinala.

Segundo diz, os “ataques de caráter” de que foi alvo “atentam contra a normalidade da vida dos profissionais da administração pública, que apenas pretendem progredir na sua carreira”.

Não aceito estar sob suspeição falsa de privilégio. Ninguém pagará o prejuízo profissional que me imputam, mas também ninguém está ou estará acima da minha retidão e imagem”, destaca.

Em 28 de dezembro, em declarações à RTP/Açores, o secretário da Agricultura, António Ventura, defendeu que a sua mulher “teve acesso a um concurso como qualquer açoriano”, recordando que o procedimento “não estava limitado a ser esposa de um governante ou de um político em funções”.

“A minha esposa é uma cidadã, uma açoriana como qualquer outra, e candidatou-se a um concurso público, com prova escrita e oral. Foi classificada em primeiro lugar e daí não vejo mal nenhum”, afirmou o secretário regional do executivo açoriano liderado pelo social-democrata José Manuel Bolieiro, que tomou posse em novembro de 2020, após 24 anos de governação do PS.

Em 5 de janeiro, o Chega exigiu explicações ao executivo regional sobre os contornos deste concurso, por uma “questão de transparência e clarificação“, pretendendo saber se todas as etapas e regras concursais foram cumpridas sem a intervenção do secretário regional.

O júri do concurso foi composto pelos diretores regionais da Agricultura e das Florestas, pelos diretores dos Serviços de Desenvolvimento Agrário das ilhas de São Miguel e Terceira e pelo presidente do Instituto Regional de Ordenamento Agrário.

Além de técnica na direção do Desenvolvimento Rural, Fernanda Ventura foi técnica superior do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (de 1997 a 2010) e professora de Matemática do terceiro ciclo do ensino básico (entre 1996 e 1997).