“A Noiva”
Nascida em França e de origem portuguesa, Barbara (Joana Bernardo) tem dois filhos pequenos, está grávida de outro e encontra-se detida num campo de prisioneiros no Iraque. Ela é uma “noiva da jihad”, a mulher de um combatente francês do Estado Islâmico que foi capturado e executado pelos iraquianos, e aguarda ali julgamento, já que não pode ser deportada. Sérgio Tréfaut foi ao Iraque rodar este filme descritivo e em tudo parcimonioso, da emoção à informação sobre Barbara. Para o realizador, ela é um enigma irresolúvel com forma humana, uma contradição viva, suspensa entre dois mundos que se opõem, e não é possível procurar a compreensão nem adiantar uma explicação última do seu comportamento, e das suas escolhas e motivações para se ter tornado em quem tornou. Esta condescendência ingénua e, até certo ponto, desculpabilizadora, para com a personagem e, por extensão, todas as “noivas da Jihad”, decerto não será partilhada por todos os espectadores.
“O Colibri”
A italiana Francesca Archibugi adapta aqui o romance homónimo do seu compatriota Sandro Veronesi, que acompanha a vida de um homem, Marco Carrera, desde a infância nos anos 70 até aos nossos dias, entre a sua vida pessoal e profissional, e a rapariga que conheceu e amou quando era adolescente, a qual nunca esqueceu e com a qual esteve sempre em contacto, apesar de ambos terem casado e constituído família. “O Colibri” é um psicodrama de obsessão romântica e perturbação familiar que por vezes se põe a namorar com o telenovelesco, e que se dispersa dramática e emocionalmente ao andar numa constante jiga-joga temporal, e por faltar capacidade de síntese a Archibugi (que podia muito bem ter “limpo” uns bons 20 minutos de palha à história). O elenco — que inclui um Pierfrancesco Favino subaproveitado, e ainda Laura Morante, Bérénice Bejo e Nanni Moretti — está uns degraus acima do filme.
https://www.youtube.com/watch?v=RlOPu0kAORE
“Um Homem Chamado Otto”
Em 2015, o sueco Hannes Holm adaptou ao cinema o livro Um Homem Chamado Ove, do seu compatriota Fredrik Bakman, a história de um viúvo anti-social, rabugento e com intenções suicidas, cuja vida ganha um novo alento e é devolvido à comunidade da qual se tinha afastado, graças à simpática e barulhenta família de vizinhos iranianos que se muda para uma casa junto à sua. O filme ganhou um Prémio do Cinema Europeu e foi nomeado para dois Óscares, incluindo o de Melhor Filme Estrangeiro. “Um Homem Chamado Otto” é o seu “remake” americano, realizado por Marc Forster e interpretado por Tom Hanks, que também produz com a sua mulher, Rita Wilson, e com o produtor sueco do filme original. A história é transferida para Pittsburgh, na Pensilvânia, e o enredo foi pouco alterado. “Um Homem Chamado Otto” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.