A Comissão Executiva da TAP adiantou esta sexta-feira que a concentração de trabalhadores na entrada das instalações da companhia aérea, em Lisboa, para exigir a demissão da administração, “constitui um ilícito disciplinar” e “não mais se deve repetir”.

“O direito à liberdade de expressão e o direito de manifestação fazem parte da cultura da TAP, mas devem, todavia, ser exercidos nos termos da lei e sem pôr em causa a liberdade de terceiros”, indicou a administração da TAP Air Portugal em comunicado, ao qual a Lusa teve acesso.

De acordo com a administração, tratou-se de “um ajuntamento de trabalhadores não ordenado, não solicitado e não autorizado”.

“Esse ajuntamento, que decorreu, sensivelmente, entre as 11h00 e as 17h00, dificultou e impediu a livre circulação de pessoas, viaturas e bens, tendo tido impacto no normal funcionamento da nossa atividade no Campus”, salientou.

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A administração da TAP lembrou ainda que “todos têm o direito a exprimir a sua opinião e a expor livremente as suas posições e reivindicações”.

Sendo assim, referiu, a companhia “sempre colocou ao dispor de todos os trabalhadores canais de comunicação com a gestão da empresa, seja de forma direta, seja através de entidades representativas dos trabalhadores”.

“O normal funcionamento da empresa e a liberdade de circulação dos trabalhadores e colaboradores da TAP não podem ser postos em causa, pelo que, caso um acontecimento desta natureza volte a ocorrer, a TAP ver-se-á na contingência de ter de defender, nos termos da lei, a liberdade de circulação dos trabalhadores que não se manifestam“, acrescentou.

Mais de uma centena de trabalhadores da TAP estiveram esta sexta-feira concentrados na entrada das instalações da companhia aérea numa manifestação silenciosa convocada por mensagem.

Na mensagem transmitida entre trabalhadores, a que a Lusa teve acesso, os trabalhadores da companhia aérea foram chamados a manifestar-se de forma “pacífica e silenciosa”, durante a hora de almoço.

“Vamos exigir a sua demissão [do Conselho de Administração]”, lia-se na missiva. “Vamos de forma ordeira mostrar a est@s senhor@s que a TAP não é Versailles e que não têm o nosso apoio nem nos podem exigir sacrifícios enquanto recolhem para eles benefícios despesistas”, acrescentavam.

Mais de uma centena de trabalhadores respondeu ao apelo e encontrava-se concentrada em silêncio, por vezes interrompido por assobios, à porta das instalações da TAP, onde tentaram também impedir a saída de alguns veículos.

Os manifestantes, que deveriam pertencer a vários setores da companhia aérea, não quiseram prestar declarações aos jornalistas.

Em declarações aos jornalistas, Cristina Carrilho, da Comissão de Trabalhadores da TAP, disse estar “solidária” com a concentração espontânea, cujos motivos “têm a sua justeza”.

“Foi a indemnização de 500.000 euros dada à ex-administradora Alexandra Reis, agora são 450 euros para utilizar em Uber àqueles diretores que não tiveram carro da empresa, porque o negócio dos BMW “borregou”, como se diz em gíria de aviação, e também a denúncia dos AE [acordos de empresa] e as propostas que estão a ser apresentadas aos sindicatos que, por aquilo que os sindicatos têm dito, efetivamente, não são boas para os trabalhadores, cortam muitos direitos e, portanto, os trabalhadores estão descontentes“, disse a representante.

Cristina Carrilho lembrou que os trabalhadores da TAP têm os vencimentos reduzidos e considerou que “estão no seu direito de exigir a demissão da administração”, que “pôs o pezinho na poça com algumas questões”.

A TAP tem sido protagonista de vários casos na comunicação social, entre os quais a polémica indemnização de 500.000 euros a Alexandra Reis que motivou demissões no Governo.

A companhia aérea está a ser alvo de um plano de reestruturação que inclui cortes salariais aos trabalhadores e que motivou uma greve de tripulantes em dezembro, estando outra já marcada para o final deste mês.