As chuvas continuam sem dar tréguas na Califórnia, mas o pior pode já ter passado. Os serviços meteorológicos locais decretaram no domingo mais um alerta de mau tempo que se prolongará, pelo menos, até terça-feira, colocando em risco 25 milhões de pessoas (quase dois terços da população do estado). Estas são as más notícias; as boas são que, findo este mais recente período de chuva, o estado norte-americano poderá finalmente respirar de alívio, já que é expectável que a tempestade, que já matou pelo menos 19 pessoas, dê tréguas.

Parece que teremos um período seco como não se tem visto desde o dia a seguir ao Natal, quando tudo isto começou”, disse Eric Kurth, meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia em Sacramento, citado pelo Los Angeles Times.

O bom tempo deverá começar por chegar ao sul da Califórnia já esta terça-feira; no resto do estado, é esperada precipitação ligeira para os próximos dias antes de a tempestade se afastar para leste na terça-feira. As autoridades já olham para o futuro, e começam a preparar a reconstrução das áreas mais afetadas; enquanto esse dia não chega, a Casa Branca já acionou os meios de emergência federais para responder ao desastre.

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A situação é pouco comum num estado mais habituado aos fogos e a atravessar até aqui uma das piores secas da sua história. Só a cidade de São Francisco registou desde o dia de Natal o mesmo volume de precipitação que teria normalmente em meio ano.

E é precisamente de um desastre que se trata quando olhamos para os números: dezenas de milhares de evacuações, mais de 150,000 pessoas sem eletricidade, milhões de dólares em prejuízos materiais, além das quase duas dezenas de mortos (sem contar com desaparecidos). “Perdemos demasiado – demasiadas pessoas nestas tempestades e nestas águas”, afirmou no sábado o governador californiano, Gavin Newsom, ecoando os sentimentos da população quanto à calamidade.

O número de mortos, que já fez desta uma das tempestadas mais letais da história da Califórnia, não inclui desaparecidos; é o caso do pequeno Kyle Doan, de cinco anos, apanhado pela tempestade quando viajava de carro com a mãe para o primeiro dia de regresso às aulas. “Estava abraçada a uma árvore com um braço e a agarrar o Kyle com outro, mas a corrente empurrou-nos e a mão escorregou-me”, contou a mãe do rapaz. As buscas decorrem há já uma semana, e a Guarda Nacional já foi acionada para o terreno.

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A verdade é que estas cheias estão longe de ser um exemplo isolado de fenómenos climatéricos extremos; na verdade. Dados da Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera (NOAA, na sigla inglesa) revelam que, só em 2022, os Estados Unidos registaram um total de 18 catástrofes naturais, com um astronómico custo total de 165 mil milhões de euros, e um custo humano de quase 500 vidas.

“As alterações climáticas estão a provocar calamidades de grande dimensão que assolam todas as regiões dos Estados Unidos”, refere um recente estudo federal do Congresso norte-americano. “Muitos dos danos que os cidadãos já estão a sofrer em todo o país irão agravar-se à medida que as temperaturas aumentam e surjam novos perigos de morte”.