Pier Antonio Panzeri, ex-eurodeputado italiano e presidente da ONG Fight Impunity, no centro do escândalo Qatargate, concordou, esta terça-feira, em revelar aos tribunais belgas tudo sobre o escândalo que envolve subornos do Qatar e de Marrocos a eurodeputados e assistentes de grupos do Parlamento Europeu para influenciar decisões em Bruxelas e beneficiar os dois países.

De acordo com o Ministério Público belga, citado pelo El Pais, Panzeri, que foi detido em dezembro, assinou um “acordo de arrependimento”, prometendo “fazer declarações significativas, reveladoras, sinceras e abrangentes”.

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As revelação de informações sobre o “modus operandi, os acordos financeiros com Estados terceiros, a estrutura financeira criada, os beneficiários dessas estruturas e o envolvimento de pessoas conhecidas ou ainda não conhecidas nos autos” relativas aos Qatargate acontecerá em troca de uma pensa de prisão limitada, diz o mesmo jornal, que cita o Ministério Público.

De acordo com a agência Lusa, este acordo de cooperação com a procuradoria federal belga resulta num ano de prisão efetiva para o ex-eurodeputado. Panzari  “assinou uma confissão em troca de menos tempo de prisão, uma coima e a apreensão de todos os seus bens adquiridos de forma criminosa, cujo valor é estimado em cerca de um milhão de euros”, disse em comunicado o Ministério Público. De acordo com Laurent Kennes, advogado de Panzari, “será proferida uma pena de cinco anos, mas suspensa para a parte que exceda um ano. Ele vai cumprir um ano de prisão, embora uma parte dele seja com pulseira eletrónica (ou seja, em prisão domiciliária)”.

A notícia surge no mesmo dia em que o ex-eurodeputado se deveria apresentar em tribunal, na Bélgica, para recorrer à decisão de o manter em prisão preventiva.  No entanto, Panzeri não compareceu na sessão, uma vez que decidiu abandonar o recurso, interposto em dezembro, alegando “razões pessoais”, indicou a procuradoria federal.

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O eurodeputado italiano, demitido do cargo quando o escândalo se tornou público, foi detido a 9 de dezembro, juntamente com os seus concidadãos Francesco Giorgi, assessor do eurodeputado do Partido Democrático (PD) Andrea Cozzolino, e Niccolò Figa-Talamanca, secretário-geral da organização não-governamental (ONG) No Peace Without Justice (Não Há Paz Sem Justiça, em tradução livre).

A eurodeputada socialista grega Eva Kaili, demitida do seu cargo de vice-presidente do PE, retirada do grupo dos Socialistas & Democratas depois da revelação do escândalo e agora eurodeputada não-inscrita, foi também detida a 09 de dezembro. Kaili é namorada de Giorgi.

Todos foram indiciados por “pertença a uma organização criminosa”, “branqueamento de dinheiro” e “corrupção”. São acusados de terem recebido grandes somas de dinheiro vivo do Qatar para influenciar a favor do emirado declarações e tomadas de decisão políticas na única instituição eleita da União Europeia (UE), em particular a propósito dos direitos dos trabalhadores.

No âmbito desta investigação, entregue no verão de 2022 ao juiz de instrução bruxelense Michel Claise, Panzeri era desde há pelo menos um ano vigiado pelos serviços secretos belgas e, segundo a imprensa, também recebeu dinheiro de Marrocos para defender os interesses daquele país norte-africano no Parlamento Europeu. Tanto o Qatar como Marrocos veementemente negaram tais alegações.