A Arábia Saudita é em muitos pontos uma realidade distinta daquelas a que estamos habituados na Europa e a recente contratação de um guarda-redes por parte do Al Nassr, que durante uns minutos conseguiu tirar o foco das atenções de Cristiano Ronaldo, funciona como exemplo paradigmático disso mesmo. Após a lesão do titular David Ospina, o clube tentou de imediato um sucessor e assegurou o argentino Agustín Rossi entre aviões: o guardião tinha estado nos EAU a discutir a Supertaça pelo Boca Juniors frente ao Racing, fez escala em Madrid, foi informado aí pelo empresário de que podia seguir para a Arábia Saudita e em vez de voltar a Buenos Aires trocou de avião para Riade. Com isso, e por uma operação que valeu um milhão de dólares (cerca de 920 mil euros), o Flamengo de Vítor Pereira terá de aguardar mais cinco meses por Rossi.

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Keylor Navas, que a meio da semana defrontou pelo PSG o misto de estrelas entre Al Nassr e Al Hilal, foi hipótese mas acabou por cair. Menos um reencontro para Ronaldo, português que tem sido quase relações públicas fora de campo com diversos momentos com antigos companheiros e outras figuras do desporto (a última foi Francis Ngannou, ex-campeão de MMA). No entanto, nem isso parecia enfraquecer não só o rumo da equipa de Riade na Liga saudita mas também a estreia oficial de Cristiano Ronaldo depois de um cartão de visita que dificilmente poderia ser mais apelativo: de regresso à competição naquele que foi o seu primeiro jogo desde o Mundial, o número 7 marcou de grande penalidade e bisou na recarga a um remate de cabeça que batera no poste. Por 60 minutos, CR7 voltou a ser feliz. E era assim que pretendia continuar.

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“Ele está pronto. O mundo inteiro está à espera. No domingo, todos os olhos estão em Ronaldo, que fará a estreia pelo Al Nassr”, destacava o clube nas redes sociais como lançamento da partida com o Al-Ettifaq, um compromisso importante para a formação comandada por Rudi García poder reassumir a liderança da Liga de forma isolada depois do triunfo que permitiu ao Al-Ittihad de Nuno Espírito Santo subir de uma forma provisória ao topo. “A nível pessoal é um fenómeno e a nível profissional cuida-se muito bem e está em boa forma apesar de fazer 38 anos daqui a pouco tempo. É super profissional, vem diariamente ao serviço médico para fazer as suas rotinas, alongar e resolver qualquer desconforto que tenha para treinar no dia seguinte sem qualquer inconveniente”, salientara antes David Garrido, fisioterapeuta do Al Nassr.

Estava tudo a postos depois dos dois encontros de castigo cumpridos que vinham ainda da Premier League, sendo que para que nada faltasse ao português a imprensa local anunciava este domingo que, à semelhança do que acontecera no particular com o PSG, Ronaldo deveria entrar na condição de capitão de equipa. Nas bancadas, um pouco de tudo a agradecer ao jogador português do “Obrigado Ronaldo” numa enorme tarja às bandeiras amarelas e azuis com CR7 que sobretudo as crianças agitavam com energia. “I wish you the best but you are only the best”, dizia outra das cartolinas no estádio perante um fenómeno que conseguiu colocar as camisolas que não fossem para criança ou tamanho XXXL esgotadas em dia de jogo.

Num Mrsool Park completamente lotado e com um ambiente infernal, pertenceu a Ronaldo o primeiro remate do encontro mas a tentativa desviou num defesa contrário e acabou por sair para canto (6′). Depois, um longo marasmo sem golos e com raras oportunidades. Porque o ritmo e intensidade com que se jogou foi baixo, porque nenhuma das equipas arriscava colocar mais do que três ou quatro unidades na frente com bola perante a falta de envolvimento dos médios e dos laterais, porque os visitantes pouco mais fizeram do que defender e tentar sair raras vezes em transições. Ainda assim, o domínio do Al Nassr acabaria por ser premiado, com Talisca a surgir nas costas de Ronaldo após cruzamento da esquerda para desviar sozinho para o 1-0 com que se atingiria o intervalo entre algumas homenagens ao lesionado Ospina (31′).

O segundo tempo, mesmo não aumentando muito a qualidade global de jogo, trouxe mais Al Nassr na zona do último terço de campo, colocando Paulo Victor, guarda-redes que na última temporada esteve a jogar no Marítimo, como principal figura do encontro perante remates do internacional saudita Abdulmajeed Al-Sulaiheem, Talisca e Pity Martínez, argentino de 29 anos que quando estava no River Plate foi apontado a algumas equipas europeias de topo mas acabou por ser uma carreira entre EUA e Arábia Saudita. E não ficaria por aí, com mais uma grande intervenção a travar um tiro rasteiro de Ronaldo após grande trabalho descaído sobre a esquerda com finalização de pé esquerdo (78′). O encontro chegaria mesmo ao fim com a margem mínima assente no golo do antigo jogador do Benfica mas suficiente para recolocar o Al Nassr no topo da Liga da Arábia Saudita num dia sobretudo marcado pela estreia oficial do português em Riade.