No seu habitual espaço de comentário semanal na SIC, Luís Marques Mendes analisou este domingo o caso da contratação de Joaquim Morão, ex-presidente da Câmara de Castelo Branco, “a mais de 200 quilómetros de distância de Lisboa”, para a Câmara Municipal que era então presidida por Fernando Medina, atual ministro das Finanças.

“É estranho, é esquisito. E até ao momento ainda não ouvi nenhuma explicação clara e convincente sobre esta matéria”, disse, realçando o facto inusitado de Morão, ex-autarca na reforma, ter sido contratado para supervisionar obras na capital. “Como é que uma Câmara como Lisboa, que tem centenas de técnicos, engenheiros e gestores, vai contratar um ex-presidente de Câmara para tratar das suas obras?”

Partindo do princípio de que Fernando Medina não foi constituído arguido por qualquer crime — ao contrário dos outros seis visados na sequência das buscas na Câmara Municipal de Lisboa, Morão incluído —, Marques Mendes considera que, neste momento, pedir a demissão do ministro “não faz sentido nenhum”.

Ainda assim, o comentador assinala a mossa que este novo caso veio fazer na imagem do ministro das Finanças, já antes maculada: “Fragilizado Fernando Medina já estava, sobretudo pelo caso de Alexandra Reis, e esta situação não ajuda. Imagine que Fernando Medina vem a ser constituído arguido e por uma suspeita de um crime grave. Aí terá de sair e pode ser um tiro no porta-aviões”.

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Frisando que não existem, até ao momento, quaisquer indícios que possam levar a isso, Marques Mendes especula sobre o efeito que suspeitas como estas podem ter, não apenas, sobre a figura de Medina, mas também sobre o próprio primeiro-ministro. “Fernando Medina é o ministro mais forte deste governo, muito próximo de António Costa, e isso pode ser direto ao coração de António Costa. Há aqui uma espada em cima da cabeça, quer de Fernando Medina, quer de António Costa.”

Já sobre o caso de João Gomes Cravinho, “um ministro que tem uma relação difícil com a verdade”, e da derrapagem nas obras do ex-Hospital Militar de Belém, Marques Mendes tem uma posição diferente. “Estamos perante factos graves”, começou por considerar, para depois enfatizar o facto de o então ministro da Defesa, atualmente nos Negócios Estrangeiros, ter nomeado “para uma empresa do Estado” Alberto Coelho, o “diretor-geral responsável por este descontrolo financeiro já depois de ele ter sido condenado pelo Tribunal de Contas”.

Tendo em conta a crise política instalada, e sem resistir a recordar que já no primeiro dia do ano tinha garantido “que não acreditava que Pedro Nuno Santos não soubesse” da “choruda indemnização” concedida a Alexandra Reis, o comentador da SIC fala em “desastre”.

“Esta sucessão de casos e casinhos é um desastre. Não é boa para ninguém. Há muito que digo que só serve os extremos da vida política. Não é boa para a democracia. Aos olhos das pessoas, vivemos num pântano. Para muitos, os políticos não são sérios e não falam verdade. Não é boa para o governo. Fica a sensação de que o primeiro-ministro não tem controlo na situação. Que lhe falta liderança e autoridade.”