O professor catedrático e antigo reitor da Universidade Moderna José Júlio Gonçalves morreu esta segunda-feira, no hospital de Cascais, aos 94 anos, vítima de doença, informou a família à Lusa.

José Júlio Gonçalves nasceu a 19 de janeiro de 1929, na Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra, e ficou órfão de pai aos 12 anos. Como primogénito, mudou-se com a mãe e os 12 irmãos para o Porto, onde trabalhou nos Correios.

Manteve sempre os estudos e licenciou-se no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP), sua “alma mater”, onde trabalhava na altura da revolução do 25 de Abril de 1974 com o histórico fundador do CDS Adriano Moreira, também já falecido.

Doutorou-se em Ciência Política na Universidade Complutense de Madrid, tendo o antigo político espanhol Manuel Fraga Iribarne (que foi presidente da autonomia da Galiza) como seu mentor, assumindo uma Cátedra no seu regresso a Lisboa.

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“JJ” Gonçalves, como era conhecido no meio académico, manteve-se no ISCSP como professor catedrático até à sua reforma e escreveu mais de cinquenta livros na área da Ciência Política, Sociologia, Antropologia Cultural e Comunicação.

Durante o seu percurso académico chegou a ter como assistente aquele que foi mais tarde o cardeal patriarca de Lisboa D. António Ribeiro e recebeu no ISCSP figuras proeminentes da sociedade, das artes e da política, como o antigo presidente da Rússia Mikhail Gorbatchov, “pai” da Perestroika e Prémio Nobel da Paz.

No dia 25 de Abril de 1974 era sub-director do jornal “A Capital” e fez sair para as “ruas da Revolução” o jornal vespertino, contra ordens superiores.

Especialista em comunicação social e em matérias de propaganda, colaborou com o Estado Maior do Exército quando este foi dirigido por Ramalho Eanes.

Era considerado uma figura polémica, de prodigiosa imaginação, e depois de ter sido um dos colaboradores íntimos de Adriano Moreira, saiu do respetivo circuito por colaborar com o marcelismo. Ao longo da sua vida, José Júlio Gonçalves pertenceu à Maçonaria.

Fazendo pontes com o tradicionalismo católico, figuras do salazarismo e da extrema direita e com o Grande Oriente Lusitano, conseguiu animar a criação de uma universidade privada, que sofreu os efeitos das desventuras de uma dissidência maçónica.

Foi um dos impulsionadores e professor da Universidade Livre de Lisboa e fundador e reitor da Universidade Moderna, vindo mesmo a ser julgado no escândalo de corrupção e outros crimes que envolveu aquela instituição cooperativa de ensino privado e que teve repercussões políticas, acabando absolvido no processo por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa.