Uma enchente de professores e educadores confluiu esta quarta-feira para a Praça do Giraldo, considerada a sala de visitas de Évora, para uma manifestação em que foram exigidas melhores condições de trabalho para a classe.

Os professores das escolas de Évora que aderiram à greve no distrito partiram, a pé, das sedes dos seus agrupamentos em direção à Praça do Giraldo, a que se juntaram outros oriundos de estabelecimentos de ensino de vários concelhos do distrito.

Pelo caminho, os docentes que lecionam na capital de distrito, com cartazes, apitos e buzinas, entoaram palavras de ordem como “ministro escuta os professores estão em luta” ou “professores a lutar também estão a ensinar”.

Já na praça, com todos os grupos juntos, os professores apelaram ao Governo, em uníssono, para que respeite os professores e exibiram faixas e cartazes onde se podia ler “professores em luta” ou “pelo futuro da educação”.

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Enquanto decorriam discursos de dirigentes sindicais no palco instalado no local, Joaquim Oliveira, professor na Escola EB1 do Rossio, em Évora, contou à agência Lusa que aderiu ao protesto para “lutar pelos vários direitos que foram ultrapassados”.

A quatro anos da reforma, este professor mostra-se “cansadíssimo” e a “precisar de ir para casa”, mas salienta que precisa que os mais novos que “andam por aí sem vínculo se vinculem para substituir os velhos”.

Há quem mande e não esteja a resolver os problemas dos professores. O ministro não resolve e não quer resolver e o Governo sempre diz que é apaixonado pela Educação, mas não quer resolver”, lamenta.

Num dos locais mais frequentados da cidade alentejana, os protestos não passaram despercebidos e foram muitos os transeuntes que pararam para ver o que se passava.

Acompanhada por outras professoras, Francisca Sousa, docente no Agrupamento de Escola de Redondo, afirmou à Lusa que está presente na manifestação “pelos colegas mais novos”, já que será “das poucas” que vai chegar ao topo da carreira.

Na sua opinião, “uma das maiores questões” da Educação em Portugal é “o excesso de burocracia“, porque os professores estão “sempre a ser solicitados para reuniões e trabalhos que pouco tempo deixam para a preparação das aulas”.

Já a professora Maria João Santos queixou-se, sobretudo, da distância a que está da família, porque abandonou a sua casa, em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, para lecionar em Montemor-o-Novo, a cerca de 300 quilómetros.

O salário não é compatível com as despesas que tenho, mas tenho o meu marido que me ajuda, porque a ir a casa todos fins de semana e, com o aumento de tudo, dos combustíveis e das portagens, não ganho para a despesa”, adverte.

Em Évora, os professores em protesto não estiveram sozinhos e contaram com a solidariedade de alunos e também de políticos, como a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e os autarcas de Évora, Carlos Pinto de Sá (CDU), e de Mourão, João Fortes (PSD).

Com um cartaz na mão onde se podia ler “Educação não é um gasto é um investimento“, Tomás Lavouras, aluno da Escola Secundária Severim Faria, em Évora, manifesta-se “pelos professores”, alegando que sabe “as condições em que eles estão a trabalhar”.

Segundo o presidente do Sindicato de Professores da Zona Sul (SPZS), Manuel Nobre, a adesão à greve no distrito de Évora, convocada por uma plataforma de sindicatos que inclui a Federação Nacional de Professores (Fenprof) ficou “acima dos 90%”.

Praticamente, todos os professores estão em greve e em grande número presentes na Praça do Giraldo. A adesão ficou acima dos 90%” em termos distritais e, no caso de Évora, há escolas com 95% de adesão”, adianta.

De acordo com o sindicalista, dezenas de escolas um pouco por todo o distrito não tiveram aulas.

Os professores estão em greve desde 09 de dezembro para exigir melhores condições de trabalho e salariais, o fim da precariedade, a progressão mais rápida na carreira, e em protesto contra propostas do Governo para a revisão do regime de recrutamento e colocação, que está a ser negociada com os sindicatos do setor.

Esta greve dos professores por distritos envolve nove estruturas sindicais: Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Pró-Ordem dos Professores – Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (SEPLEU), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (SINAPE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU) e Federação Nacional de Educação (FNE), que aderiu mais tarde.

Além desta paralisação estão a decorrer outras duas, organizadas por diferentes sindicatos: O Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP) começou com as greves em dezembro do ano passado, seguiu-se o Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE) com greve à primeira hora de trabalho.