Embalado pela sondagem divulgada horas antes, a primeira desde 2017 que dá o PSD à frente do PS, Luís Montenegro aproveitou o Conselho Nacional do partido para ajustar contas com António Costa, mas não só. Num discurso de cerca de 40 minutos, o líder social-democrata deixou claro que não hesitará em pedir eleições antecipadas a Marcelo Rebelo de Sousa caso o primeiro-ministro não arrepiar caminho e exigiu “sangue frio” àqueles que, no PSD, criticaram a abstenção do partido na moção de censura ao Executivo socialista.

Sem nunca concretizar a quem se referia, Luís Montenegro reagia assim à declaração de voto de André Coelho Lima e Carlos Eduardo Reistal como o Observador avançou, os antigos generais de Rui Rio entregaram uma declaração de voto no Parlamento onde classificavam a abstenção como um potencial sinal de “tibieza”, uma “ausência de demarcação”, uma “mensagem equívoca” e incompreensível.

[Ouça aqui o essencial do discurso de Luís Montenegro na Reportagem da Rádio Observador]

Montenegro diz não querer eleições a todo o custo

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“Não sou daqueles que querem eleições a todo custo”, começou por responder Montenegro. “No dia em que concluirmos que o Governo não tem condições prosseguir, vamos ao senhor Presidente da República dizer por ‘a’ mais ‘b’ mais ‘c’ reclamar a interrupção da legislatura. Se esse dia chegar, assumiremos a responsabilidade”, atirou o líder social-democrata, garantindo que, se decidirem apresentar uma moção de censura será para ter “consequência”.

“Não andamos a disputar a ver quem chega primeiro para reclamar, gritar mais alto ou marcar terreno. Nós somos oposição, mas somos sobretudo a alternativa, que não se compadece com o desrespeito pelo veredicto popular. Uma coisa é criticar o Governo, outra coisa é exigir eleições. O PSD não exige eleições. Pelo menos, para já. Um partido responsável não pede ao país que entre num processo eleitoral”, continuou o social-democrata.

Mais uma prova de que estava a falar para dentro do partido, foi a ideia que Montenegro deixou a seguir: “Tenhamos sangue frio. Paciência. Inteligência emocional. Não nos deixemos levar por ímpetos e impulsos repentinos. Nós somos diferentes”, insistiu o líder social-democrata, antes de acrescentar: “Se alguém quiser perturbar, está no seu direito. Estarei aqui, enquanto o partido me quiser aqui”.

Para trás tinham ficado duras críticas ao Governo socialista, com António Costa como personagem principal. “António Costa, esta é sua hora. É hora de mostrar o que vale. Esta é hora de António Costa de demonstrar que é merecedor e que ainda está a tempo de recuperar a governação. Esta é sua hora. Se não estiver à altura da sua hora, o país terá mecanismos de poder atalhar caminho. O PSD está sempre preparado. E alguém que é líder do PSD está sempre preparado para ser primeiro-ministro”, concluiu Montenegro.

Sem nunca se referir ao caso de Joaquim Pinto Moreira, que teve de se afastar da vice-presidência da bancada parlamentar social-democrata à boleia da “Operação Vórtex“, Montenegro deixou outra indireta no ar e começou a disparar contra “máquina de propaganda do PS”, que tenta atirar os sociais-democratas para a “lama” e que tem como objetivo, em conluio com os “interesses” instalados, dispersar a atenção dos portugueses. “Não me intimidam, nem intimidam o PSD. Estamos aqui a lutar por Portugal até à última gota do nosso corpo”, atirou o líder social-democrata.

Antigos generais de Rio atacam abstenção de Montenegro na censura a Costa. “Tempos paradoxais não toleram tibiezas”

Os alvos Medina, Pedro Nuno e Gomes Cravinho

Antes mesmo de se desdobrar em avisos a António Costa, Luís Montenegro já se tinha atirado a Fernando Medina, Pedro Nuno Santos e João Gomes Cravinho, três ministros que contribuíram diretamente, segundo o líder social-democrata, para um ano de Governo em que as únicas coisas que se retiram são “a confusão a desintegração e a completa incapacidade de ter um rumo”.

Primeiro, Medina, o caso da indemnização de Alexandra Reis e posterior nomeação como secretária de Estado do Tesouro. “O ministro das Finanças diminuiu-se politicamente: ou não sabia, o que é de uma ligeireza total; ou, se sabia e mentiu, seria inqualificável”, disparou o líder do PSD.

Depois, Pedro Nuno Santos e o mesmíssimo caso. “[O ministro] não sabia. Depois indagou e constatou que o seu secretário de Estado sabia e teve uma atitude que o PS veio a correr enaltecer como sendo de grande altruísmo. Umas semanas depois, vem confessar que soube, que anuiu e que autorizou que aquela indemnização tinha sido paga.”

Por fim, e ainda sobre o mesmo caso, uma crítica a ambos. “Se o ministro das Infraestruturas sabia, se autorizou, e se não dialogou minimamente com o ministro das Finanças, se isso aconteceu assim, de facto, este Governo está completamente perdido“, denunciou Montenegro.

Montenegro deixaria ainda uma palavra sobre João Gomes Cravinho, ainda às voltas para explicar como é possível dizer que sabia da derrapagem orçamental nas obras do Hospital Militar de Belém e ao mesmo tempo continuar a insistir que não autorizou a obra. “É mais um membro do Governo a afetar a credibilidade do Governo”, disse o social-democrata, antes de rematar: “António Costa anda a brincar com a governação e com a sua credibilidade”.