Com a vaga de frio que atingiu todo o país nos últimos dias, quem dorme na rua tem sentido ainda mais dificuldades. As associações de apoio às pessoas em situação de sem-abrigo esforçam-se para conseguirem dar o máximo de ajuda, mas também essa está a chegar ao limite. “Com esta vaga de frio há uma preocupação acrescida de que as pessoas se mantenham quentes e aqui é que temos o nosso maior problema, porque neste momento estamos sem stock de cobertores e mantas“, explica Ana Salão, coordenadora do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA) do Porto.

Os dias de maior frio levaram o CASA a ativar o seu plano de prevenção, que prevê o reforço de alimentos e de roupas quentes. “Temos levado bebidas quentes — café e chá — para que as pessoas também se possam manter quentes dentro do possível. Neste momento, estamos sem cobertores para entregar. Entregamos os últimos ontem à noite“, acrescenta a coordenadora, sublinhando que os agasalhos e roupas quentes podem ser entregues no Hospital Joaquim Urbano, no Porto.

Em Lisboa, Setúbal e Évora o plano de contingência para as pessoas em situação de sem abrigo já foi ativado. No caso do Porto, a Câmara Municipal explicou que, para já, não vai acionar este plano, uma vez que ainda não estão reunidos os critérios estabelecidos pelo NPISA – Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo do Porto, que reúne mais de 60 entidades, para a ativação deste plano. De acordo com estes critérios, o plano “só é ativado com temperaturas mínimas abaixo dos 3ºC durante três dias consecutivos”, explica a autarquia.

Ainda assim, a autarquia reforçou desde esta quarta-feira as equipas de rua, que diariamente acompanham as pessoas em situação de sem-abrigo. Este “contingente especial” é constituído por dois elementos da Proteção Civil Municipal, dois elementos do Regimento dos Sapadores Bombeiros, dois técnicos do Departamento Municipal de Coesão Social e dois Técnicos das Equipas de Rua.

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As duas equipas multidisciplinares vão atuar na distribuição de agasalhos, cobertores, fornecimento de alimentação de conforto e bebidas quentes, assegurando “uma monitorização intensiva das pessoas em situação mais vulnerável”, refere a Câmara em comunicado, acrescentando que será ainda feita a “sinalização e encaminhamento para o NPISA Porto das pessoas que manifestem intenção de aderir a respostas de acolhimento social”.

Câmara do Porto reforça equipas de rua no apoio aos sem-abrigo devido ao frio

As associações, no entanto, consideram importante que o plano de contingência seja ativado, mesmo que a situação atual não cumpra rigorosamente com os critérios estabelecidos. Entre outras medidas, este plano prevê estruturas de acolhimento provisório para que as pessoas possam dormir mais abrigadas.

Aguardamos a qualquer momento que o plano de contingência seja ativado aqui no Porto. Foi comunicado o reforço de serviços da Câmara do Porto que também estarão na rua a prestar assistência. No entanto, um local onde as pessoas possam dormir abrigadas é completamente diferente desta assistência que fazemos e para nós seria importante que o plano fosse efetivamente ativado, com urgência, explica Ana Salão.

A coordenadora diz compreender “que exista um limite estabelecido”, mas explica que, no terreno, a situação tem-se complicado: “Nós, que temos estado na rua todos os dias, presenciamos a dificuldade que é e o frio que está, por isso entendemos que seria de ativar o plano. A distribuição de refeições e bebidas quentes e cobertores não substitui o facto de as pessoas conseguirem dormir num local abrigado”.

Além do reforço das equipas de rua, continuam a funcionar os três restaurantes solidários da rede municipal, que servem diariamente mais de 550 refeições, com o apoio dos voluntários do CASA Porto.

Também a associação Saber Compreender apelou esta quinta-feira, num comunicado publicado nas redes sociais, para que as autoridades competentes ativem o plano de contingência “com urgência”. “Sabemos as regras para a ativação do plano de contingência e estamos conscientes de que este plano existe, mas não foi acionado. Sabemos também aquilo que é factual e que todos temos sentido: está muito frio na cidade. A situação meteorológica que se vêm a verificar merece que seja ativado o plano de contingência já“, refere a associação, acrescentando que o reforço das equipas de rua que foi anunciado “é francamente insuficiente face às condições atuais”. “As pessoas continuam a dormir nas ruas ao frio que se faz sentir”, alerta.