Mais do que um exemplar de uma espécie ameaçada, o urso Juan Carrito com apenas três anos era uma celebridade da região italiana de Abruzzo. Fez da cidade de Roccaraso a sua casa, gostava de zonas com pessoas e até de especialidades como pizza ou bolinhos. Morreu esta segunda-feira à tarde, depois de ter sido atropelado por um carro na estrada que liga Roccaraso a Castel di Sangro ( no centro de Itália, entre Roma e Nápoles).

No coro de vozes que lamentam a sua partida está a de Milo Manara. “Lamento muito saber da trágica morte de Juan Carrito”, escreveu o famoso autor de Banda Desenhada no seu Facebook, no cimo de um desenho com que homenageia o urso.

Na segunda-feira, o representante do poder local foi um dos primeiros a manifestar-se no Twitter. “É com grande dor que soube da notícia da morte do Juan Carrito, o mais famoso urso-marsicano em Abbruzzo”, disse o presidente da região, Marco Marsilio.

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No seu Twitter bem como à televisão italiana Vista e a outros órgãos de comunicação social,  o autarca referiu que “a sua perda entristece não apenas Abruzzo, mas todo o mundo que descobriu Abruzzo e a beleza dos ursos através de inúmeros vídeos [de Carrito] desde que era uma cria.”

O urso ficou famoso porque gostava de passear em zonas com pessoas, nas aldeia e vilas na montanha mas em especial na cidade de Roccaraso, um resort de ski. Era aqui que era visto a beber água de uma fonte, a dormir entre os pinheiros e a petiscar restos de pizza e sandes dos caixotes do lixo. Algumas das publicações nas redes sociais, em que algumas pessoas partilham  vídeos e imagens de Carrito desde que ele era pequeno, lembram também o seu gosto por mel ou geleia. Aliás, há quem diga que ele estava à procura de “bagas e mel”, citando o Corriere.it.

Assim que se soube que tinha sido atropelado, várias pessoas colocaram vídeos (num deles vê-se o urso em agonia, no meio da estrada, com carros a passarem ao lado) a pedir a Juan Carrito que vencesse a luta entre a vida e a morte.

Mas o embate com o carro tinha sido demasiado violento e o urso, fotografado várias vezes, como esta na estação de comboios que o deputado democrata Luciano D’Alfonso e um outro internauta publicaram no Twitter, acabou mesmo por morrer.

Juan Carrito não circulou sempre livremente por Abruzzo e redondezas. No final de 2021, invadiu uma pastelaria e deixou-se tentar por bolos acabados de fazer, mas a aventura fez com que fosse capturado e levado para uma zona remota nas montanhas. Juan Carrito regressou para junto da vila e acabaria por voltar a ser capturado em março do ano passado ficando durante algum tempo preso numa jaula, tendo depois sido libertado. Não se ficou pelos bosques da montanha e continuou a visitar Roccaraso: ainda no início deste mês de janeiro terá sido visto numa pista de ski.

“Era um animal exuberante, eu costumava compará-lo a uma espécie de James Dean dos ursos, bonito e condenado”, afirmou o diretor do Parque Nacional de Abruzzo Lazio e Molise, Luciano Sammarone.

O urso tornara-se num “embaixador dos ursos castanhos de Apennine” e chamou a atenção para a sua situação, explicou o responsável.

Os ursos-marsicanos são uma sub-espécie de urso pardo muito ameaçada. Nas montanhas Apennine, que abrangem a região de Abruzzo, no centro de Itália, o número de exemplares está reduzido a cerca 50/60 e as principais causas de morte serão a caça e os atropelamentos. Aliás, a WWF de Itália fala mesmo de uma tragédia anunciada.

Juan Carrito fazia parte de uma ninhada de quatro crias da ursa Amarena. É raro nascerem tantas crias de uma só vez nesta espécie de urso, o que por si já atraiu a atenção para Juan que ganhou o seu apelido porque uma das primeiras aldeias onde a mamã ursa e os seus bebés foram vistos foi Carrito.