O líder do PSD, Luís Montenegro, ameaçou ir a Belém pedir eleições antecipadas e o Presidente da República respondeu-lhe colocando água nessa fervura. “A perspetiva que parece existir, de bom senso, é que o Governo deve governar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, tentando travar eventuais precipitações sociais-democratas, mas também deixando um aviso ao Governo: a maioria absoluta “não é um escudo protetor ilimitado”.

O Presidente da República fala no “sentimento” que diz aferir na sociedade portuguesa para sustentar a sua posição recuada sobre um cenário de eleições antecipadas. “Na oposição nenhum partido defende a dissolução, o que é sensato”, afirma prevenindo esse ímpeto. “Seria uma paragem do país num momento crucial”, sustenta.

E, mais uma vez, disse que o que “sente que é evidente é que, do mesmo modo que a oposição não entende que este seja o momento para a dissolução, a sociedade portuguesa sente que a exigência é maior para o Governo e a oposição“. Se um deve “governar melhor“, a outra “deve ser mais assertiva e afirmativa“. E foi aqui que acrescentou: “O Governo sente que o facto de ter maioria absoluta não é um escudo protetor ilimitado e que tem de corresponder às exigências”. Recado dado.

Montenegro ameaça Costa e admite pressionar Marcelo para eleições antecipadas

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“Portugueses começam a ficar preocupados” com situação nas escolas

Houve ainda mais um aviso ao Governo, numa das matérias de governação mais quentes do momento, as negociações com os professores. O Presidente da República usou, mais uma vez, a mesma fórmula para passar a mensagem sobre a tensão crescente e as greves: “O essencial é que os portugueses começam a ficar preocupados, os alunos e pais, porque a perspetiva de estarmos no Carnaval e de ser um pulinho até à Páscoa significa ficar muito afetado este ano letivo depois de dois anos letivos muito complicados”.

Quanto à sua ausência das reuniões em Belém com os sindicatos dos professores, Marcelo argumenta com a negociação que está em curso com o Governo. “Estar o Presidente a intrometer-se nesse diálogo seria um erro e um ruído desnecessário e contraproducente”, disse Marcelo em declarações aos jornalistas.

“Nesta fase, devem ser os consultores a ouvirem os pontos de vista dos professores para ter ideia geral das divergências, convergências e pontos fundamentais”, considerou quando questionado sobre o motivo de serem os consultores da Casa Civil e não o próprio Presidente a reunirem-se com a Fenprof, a FNE e o STOP.

Marcelo justifica mesmo esta opção com a necessidade de “não poder ultrapassar o papel constitucional” do Presidente da República. Além disso, espera para ver a posição de ambas as partes, como foco especial para o Governo: “É muito importante a posição do ministro para ver se há esperança na aproximação de pontos de vista ou se é mais difícil por razões políticas, administrativas ou financeiras”.

Mais uma vez uma referência ao papel do ministro das Finanças, Fernando Medina, nestas negociações, que já tinha sido referido pelo Presidente da República na semana passada como parte importante de todo o processo — e eventual bloqueio. Na resposta, o primeiro-ministro deixou claro que o Governo funciona como “uma equipa” nesta negociação.