Uma nova proposta do governo da Dinamarca pretende eliminar um feriado religioso com mais de três séculos de história para aumentar o orçamento de Defesa do país está a gerar revolta junto dos trabalhadores, que vêm na medida uma violação do modelo económico dinamarquês.

O governo de coligação liderado pela primeira-ministra social-democrata Mette Frederiksen prevê a eliminação do Store bededag (em português o Dia da Grande Oração), criado em 1686 e celebrado na 4.ª sexta-feira depois da Páscoa. O objetivo passa por aumentar as receitas estatais para atingir mais rapidamente a quota da NATO que prevê que 2% do Produto Interno Bruto (PIB) estatal seja gasto na Defesa.

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De acordo com o executivo dinamarquês, a medida deverá gerar uma receita de cerca de 400 milhões de euros, o que permitiria ao país nórdico alcançar a meta dos 2% em 2030, e não em 2033 como estava previsto. De acordo com o jornal britânico The Guardian, que cita a Agência noticiosa France Press o governo justifica o acelerar do processo com as preocupações suscitadas pela guerra na Ucrânia. “Não acho que seja problemático ter de trabalhar mais um dia”, afirmou Frederiksen.

Visão diferente têm os trabalhadores e as associações sindicais. Lizette Risgaard, líder do maior sindicato da Dinamarca, olha para a medida como “uma ameaça séria ao modelo dinamarquês”.

“Na Dinamarca temos uma maneira própria de fazer as coisas. Os trabalhadores negoceiam com os patrões. E os sindicatos negoceiam os direitos dos trabalhadores”, declarou Risgaard, cujo sindicato, o FH, tem 1,3 milhões de filiados, equivalente a mais de 20% da população. “O governo não deveria poder fazer nada sem incluir estes parceiros sociais”, diz.

A complicar mais a questão, Lizette Risgard lembrou que a proposta levanta questões complexas que terão obrigatoriamente de ser negociadas. “Nos acordos salariais atuais, há 600 maneiras diferentes de definir o ordenado de quem trabalha naquele dia”.

Com efeito, a proposta – que não constava do programa eleitoral do governo que foi a votos em novembro – está a ser unanimemente rejeitada pela população. As sondagens mais recentes dão conta de que 75% dos dinamarqueses são contra a medida, com apenas 17% a manifestarem-se favoravelmente.

Uma petição online começada pelo FH já recolheu quase meio milhão de assinaturas. A Igreja Luterana, a principal na Dinamarca também se manifestou contra a medida, assim como associações de veteranos do exército que acusam o governo de estar a instrumentalizar as Forças Armadas. A medida também não colhe qualquer apoio no parlamento dinamarquês para lá da coligação no poder (que detém maioria absoluta). Da extrema-esquerda à extrema-direita, todos os partidos da oposição dizem que se recusarão a aprovar novos planos de Defesa se o governo for em frente com a medida.

“Os políticos devem ficar de fora de questões relacionadas com o mercado de trabalho”, defende Risgaard. “Se seguirem em frente com a medida estarão a impor a sua vontade e a violar os acordos estabelecidos”.