Depois da controvérsia em torno dos custos do altar-palco em que o Papa Francisco vai presidir às celebrações finais da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ 2023), em agosto deste ano, surgiu a questão: qual é a fatia dos custos do evento que vai ser suportada pela Igreja Católica e com que fundos vai ser paga?

Na quinta-feira à noite, o bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ, D. Américo Aguiar, esclareceu que o orçamento da Igreja para o evento ainda está a ser fechado — mas que já ultrapassou os 80 milhões de euros, o que significa que poderá representar cerca de metade do custo total do evento. A título de exemplo, só a alimentação dos peregrinos inscritos deverá custar cerca de 30 milhões de euros, explicou.

O orçamento da Fundação JMJ será a fonte de financiamento do acolhimento aos peregrinos e voluntários, da organização do Festival da Juventude e de vários dos eventos que decorrem em paralelo durante a semana da JMJ e dos serviços prestados aos peregrinos inscritos: a alimentação, os transportes, o alojamento e ainda um seguro de acidentes pessoais.

Esse orçamento será alimentado pelos donativos de empresas e beneméritos individuais que querem ajudar a organização da JMJ, mas também pelo valor pago pelos peregrinos que se inscreveram no evento. Contudo, é aqui que reside um dos principais equívocos que têm subsistido sobre a JMJ: a participação na Jornada Mundial da Juventude é gratuita e a inscrição, apesar de recomendada, é voluntária.

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A questão das inscrições já tinha sido polémica em outubro do ano passado, quando o Correio da Manhã escreveu, na primeira página, que “bilhete para ver o Papa custa 235 euros”. Contudo, não é verdade: não há qualquer “bilhete” para ver o Papa e a organização da JMJ tem garantido, em várias ocasiões, que a participação em todos os eventos da Jornada é gratuita — dos concertos às catequeses, passando pelas várias celebrações com o Papa e pela visita à feira vocacional.

Na sequência da notícia do Correio da Manhã, a organização da JMJ esclareceu que, apesar de os eventos serem gratuitos, a inscrição paga que é pedida aos peregrinos que tencionam estar presentes serve para facilitar a vida aos jovens. De acordo com a página da JMJ 2023, há 13 pacotes diferentes, que variam entre os 50 e os 255 euros — e que têm como objetivo assegurar um conjunto de necessidades que os jovens participantes vão ter na semana que vão estar em Lisboa.

O pagamento daquela inscrição, além de ajudar a organização a fazer as contas ao número de participantes, serve para cobrir o alojamento, a alimentação, o transporte, o seguro e ainda um kit de peregrino (que inclui uma mochila e vários outros itens).

“O nosso orçamento em concreto, que tem sobretudo a ver com esse serviço ao peregrino e toda a parte religiosa dos eventos, é totalmente dependente do número de inscritos e dependendo do pacote. A alimentação, por exemplo, que é um dos nossos maiores custos, é 100% dependente do número de inscritos com alimentação”, dizia em dezembro ao Observador o secretário executivo da organização da JMJ, Duarte Ricciardi.

Com o dinheiro das inscrições e dos donativos, a organização da JMJ vai assegurar o alojamento dos peregrinos (em ginásios, salões paroquiais e outras instalações deste género), a alimentação dos jovens durante os dias em Lisboa (através de um sistema de vouchers que serão válidos nos restaurantes de Lisboa) e um passe válido para todos os transportes públicos da área de Lisboa.

Os jovens podem, ainda assim, optar por participar na JMJ sem se inscreverem, custeando individualmente o alojamento, alimentação e transportes — e poderão estar presentes em todos os momentos do evento, sem exceção. Ainda assim, os preços destes pacotes propostos pela organização da Jornada ficarão, com grande probabilidade, abaixo dos preços de mercado, que naquelas semanas de agosto estarão altamente inflacionados na região de Lisboa. Mas a organização já aprendeu a lição de edições anteriores e sabe que há uma percentagem muito significativa de participantes que vão chegar a Lisboa sem terem feito a inscrição — e que vão participar na JMJ sem se inscreverem.

“A JMJ é gratuita e todos os jovens, todas as pessoas, de qualquer idade, que queiram participar, podem fazê-lo sem ter de pagar nada à organização”, explicou Duarte Ricciardi, acrescentando que os jovens têm vantagens em inscreverem-se: “Em vez de todos os dias terem que estar à procura de um restaurante para irem comer e estarem sujeitos aos preços do momento, compram o pacote de alimentação e têm acesso aos restaurantes que se associarem, durante aquela semana.”

Pode ver aqui todos os pacotes disponíveis para a inscrição dos peregrinos com os respetivos preços.