A Associated Press, cujo livro de estilo é visto como uma referência na escrita jornalística, publicou uma série de tweets com conselhos para que se evite o uso de “rótulos genéricos” que, diz, podem ser “desumanizantes”. E deu alguns exemplos de expressões a evitar: “os pobres, os doentes mentais, os franceses, os deficientes, os mais qualificados”. Mas a inclusão da referência “os franceses”, e a justificação que se lhe seguiu, não foi bem recebida pelos utilizadores do Twitter, que ridicularizaram a opção da AP.

Na página de Twitter dedicada ao livro de estilo, a AP sugeriu que se evitasse o uso de “rótulos” que de tão genéricos poderiam “desumanizar” e ofender a população a que se referem — incluindo “os franceses”. Pouco depois eliminou o tweet.

“Apagámos um tweet devido a uma referência inapropriada às pessoas francesas. Não foi nossa intenção ofender. Escrever pessoas francesas, cidadãos franceses, etc., é bom“, começou por justificar a AP, considerando que o uso do artigo “os” ou “as” pode “soar desumanizante” e pressupor uma população homogénea em vez de “indivíduos diversos”. “É por isso que recomendamos que se evitem rótulos genéricos como os pobres, os doentes mentais, os ricos, os deficientes, os mais qualificados”, escreveu, desta vez sem a referência aos “franceses”.

A reação nas redes sociais foi imediata e até a embaixada francesa nos EUA brincou com a situação, simulando a alteração do nome da página “Embaixada francesa EUA” para “Embaixada da ‘francesidade'” (tradução livre da expressão inventada “frenchness”).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A AP sugere que em vez dos tais “rótulos genéricos” se usem expressões como “pessoas com doença mental [em vez de ‘os doentes mentais’] ou pessoas ricas [em vez de ‘os ricos’]”. Ainda assim, “utilize estas descrições apenas quando claramente relevantes e quando essa relevância seja clara na história”.

Edward Luce, editor no Financial Times, questiona a adaptação dessa lógica às referências a uma nacionalidade. “Portanto ‘pessoas que são francesas? Não tem jeito'”. “Pessoas que sofrem de ‘francesidade’ [frenchness]” também foi uma opção sugerida pelos utilizadores do Twitter.

Ao Le Monde, Lauren Easton, da AP, justificou as sugestões. “A referência [para que não se use a expressão] ‘aos franceses’ assim como aos ‘mais qualificados’ é um esforço para mostrar que os rótulos não devem ser usados por ninguém”, quer sejam “tradicionalmente” vistos como positivos, negativos ou neutros.