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"Break Point". Quando a cabeça não tem juízo, a raquete é que paga

Este artigo tem mais de 1 ano

Era para ser uma espécie de “A Emoção de um Grand Slam”, mas não é. “Break Point” é sobre como é a mente continua a superar a matéria. Ou a arrastá-la até ao fundo.

A série começa com um episódio sobre a história de Nick Kyrgios, "enfant terrible" que se libertou das expectativas arruinando-as
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A série começa com um episódio sobre a história de Nick Kyrgios, "enfant terrible" que se libertou das expectativas arruinando-as

A série começa com um episódio sobre a história de Nick Kyrgios, "enfant terrible" que se libertou das expectativas arruinando-as

As críticas não têm sido as melhores, mas talvez, como em quase tudo, a satisfação tenha mais a ver com a expectativa do que com a realidade. “Break Point” é a tentativa da Netflix, basicamente declarada, de repetir o sucesso de “Drive to Survive” (por cá, “Fórmula 1: A Emoção de um Grande Prémio”, título com o punch de um folheto do Lidl), trocando as pistas de carros pelos courts de ténis. Com o mesmo realizador – Martin Webb –, a colaboração dos organismos oficiais (que veem aqui uma oportunidade dourada de conquistar uns quantos milhões de novos adeptos para a modalidade) e dos atletas. Isto é, de alguns atletas – e aqui começam os problemas dos críticos.

Tal como em “Drive to Survive”, cada nova temporada de “Break Point” deve acompanhar a temporada desportiva do ano imediatamente anterior. De modo que a série inaugura tratando logo da época 2022, aquela em que, entre outros grandes acontecimentos, se despediram Roger Federer e Serena Williams. Ora, acontece que os produtores não terão conseguido o acordo de Federer nem de Serena para a série. Ou o de Nadal. Ou de Novak Djokovic. E então, é legítima a pergunta: pode fazer-se uma série sobre os melhores do ténis sem os melhores do ténis? A resposta, para “Break Point”, é a de muitos dos tenistas que acompanha: sim, isto ainda é só o primeiro set. E as contas fazem-se no fim.

[o trailer de “Break Point”:]

O desporto, já aqui o escrevemos, é um filão que tem sido exaustivamente explorado pela nova linguagem documental das plataformas de streaming. É mais barato do que fazer ficção e muito mais rentável, porque, no fim, o que importa, na lógica do mercado mediático hoje em dia, é a celebridade, mais do que qualquer outra coisa. E o desporto tem celebridades tão grandes ou maiores do que as maiores estrelas do cinema e da TV. O problema é que essa linguagem fica, rapidamente, exaurida, na sua ânsia garimpeira de raspar todo o ouro possível da pele do seu objeto de investigação. Primeiro, tratando-o como herói sobre-humano; depois, atirando-o ao chão com os seus segredos e pecados; para, finalmente, fingir que o redime, com um qualquer gesto piedoso de amor, para paz das suas almas e das nossas.

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Quando “Break Point” começa, esta é, portanto, a sua primeira tarefa: libertar-se da sensação de déjà vu, de mais do mesmo mas agora com fitinha para o cabelo. E é preciso dizer, e ainda que nunca atinja nenhum nível “Grand Slam”, que o faz. Não é nem desilusão, nem mais do mesmo. É um jogo sério, de um atleta empenhado. Não dá show para as bancadas, mas também não parte raquetes. E é mais sobre as nossas cabeças, humanas, demasiado humanas, do que sobre um desporto de elite, jogado àquele nível por meia dúzia de jogadores de elite, para gáudio da elite que o pode pagar.

Talvez tenha sido engenho aguçado pela necessidade. Sem acesso direto às estrelas maiores, Martin Webb escolhe para protagonistas os novíssimos challengers, que se enfileiram para as derrubar, com a dificuldade acrescida de ainda estarem siderados por terem crescido a venerá-las: os Matteo Barrettini, as Maria Sakkari, os Taylor Fritz, as Ons Jabeur, os Casper Ruud. O resultado é curioso: aqueles que costumam ter todos os holofotes aparecem aqui como notícias de contexto ou personagens secundárias, no fundo do court. Mesmo quando ganham. A perspetiva escolhida torna-se assim muito mais literária, muito mais do romance contemporâneo, pelo menos, ou até da tragédia clássica. Vemos o mundo pelos olhos de gente normal, enquanto tenta derrubar os seus deuses e os seus demónios.

Escolhe o que fazes com a tua atenção, já se dizia noutros courts. E esta primeira metade de “Break Point” fez o suficiente para garantir a nossa quando, em junho, estrearem os cinco episódios que faltam

Para quem concordar que o sentido da vida é um pouco mais do que lutar por um passe de acesso à tenda VIP, é muito interessante acompanhar a história de Nick Kyrgios, enfant terrible que se libertou das expectativas arruinando-as, que partilha connosco as fotos do puto gordinho que foi e que se vai salvar ganhando o Open da Austrália em pares dando show com o amigo de infância, Thanasi Kokkinakis, quando a alegria e a camaradagem provam valer mais do que toda a técnica e treino juntos. Ou o contraste com que nos apresentada Paula Badosa, primeiro como ideal invencível pelos olhos derrotados de Ajla Tomljanovic, mas depois jovem vulnerável, debaixo de toda a pressão no Open de Madrid, quando a câmara escolhe aproximar-se dela e ela nos confidencia a depressão de que sofre. Ou entre os pequenos problemas conjugais no quarto de hotel com Tomljanovic e a família humilde de Roma de Berrettini, os dias em que vence e aqueles em que perde e a lição que nos dá – e bem contrária ao espírito do tempo – sobre como só sentindo o medo o poderemos vencer.

Chama-se “break point” ao ponto em que um jogador quebra o serviço ao adversário. Nos cinco primeiros episódios da nova série documental da Netflix, parece falar de algo mais. Daquele momento em que todos nós, humanos, quebramos – porque todos quebramos. A questão é: o que fazemos a seguir? Que fazemos dessa quebra? Que fazemos à dor, ao medo, à recordação do sabor amargo do fracasso? Deixamo-los vencer de novo? Que coisas dizemos a nós próprios quando estamos a perder? Será um acaso nunca ouvirmos nada quando estamos a ganhar?

Escolhe o que fazes com a tua atenção, já se dizia noutros courts. E esta primeira metade de “Break Point” fez o suficiente para garantir a nossa quando, em junho, estrearem os cinco episódios que faltam.

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