Mário Nogueira, líder da Fenprof há 15 anos, diz que não ficou surpreendido com a adesão às manifestações e greves convocadas por um outro sindicato, o STOP — porque “tínhamos consciência de que a irritação dos professores e colegas é enorme”. Mas admite não concordar com o estilo das paralisações que têm sido organizadas pela organização liderada por André Pestana, nomeadamente o facto de chamar os assistentes operacionais à greve para fechar as escolas, “apesar de a luta ser dos professores”.

O sindicalismo dos professores é feito pelos professores. Se me disser que o novo sindicalismo passa por marcar uma greve por tempo indeterminado, mas, afinal, ela é apenas uma hora hoje ou duas amanhã, essa não é a nossa forma de luta. Se me disser que o novo sindicalismo passa por levar assistentes operacionais a fazer a greve para serem eles a fechar as escolas, apesar de a luta ser dos professores, não fazemos isso”, defendeu, numa entrevista ao Jornal de Notícias publicada este domingo, um dia depois de mais uma manifestação convocada pelo STOP ter saído à rua, em Lisboa, e de uma delegação que incluiu professores a assistentes operacionais e psicólogos ter sido recebida por dois consultores da Presidência para a educação. A organização fala em cerca de 80 mil manifestantes, número que a polícia não confirma nem desmente.

Passou por todas as esquerdas — até à mais radical — e levou essa escola para o STOP. Prova de fogo de Pestana é este sábado

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apesar dessa mobilização, Mário Nogueira recusa que a Fenprof esteja a “perder o pé” — diz que tem cerca de 50 mil professores associados e que o número tem vindo “sempre a aumentar”. “Se tivéssemos perdido o pé, tínhamos comprado umas boias“, sublinha. A luta, vinca, “está para continuar”, pelo menos até que o Governo se comprometa a repor, ainda que de forma faseada, e até além da legislatura, o tempo de serviço dos professores que esteve congelado durante a troika. Essa tem sido uma das principais reivindicações dos sindicatos, e uma diferença face ao que está a ser aplicado na Madeira e nos Açores, em que o tempo de serviço vai ser integralmente recuperado. Por isso, admite recorrer aos tribunais, em 2026.

“Quanto aos colegas que estão na Madeira e nos Açores, podemos admitir que não é inconstitucional, porque existem medidas de atratividade para zonas periféricas. Mas, a partir de 2026, esses colegas vão chegar às escolas do continente, vamos ter colegas exatamente com o mesmo tempo de serviço, mas alguns estarão três ou quatro escalões à frente. Na nossa opinião, isso passará a não ser constitucional“, afirma.

Perante o impasse nas negociações com o ministro da Educação, o sindicalista pede que António Costa intervenha nas negociações. “Acho que um dia, perante um impasse que eventualmente venha a surgir, porque isto, de facto, toca em diversos ministérios, o senhor primeiro-ministro tem de dar a cara e tem de assumir um papel qualquer. Nomeadamente de negociador.”

Professores e pessoal não docente recebidos em Belém. “O Presidente da República tem de escolher um lado”

O líder da Fenprof reconhece que seja necessário reforçar o número de professores a sul, porque há mais a norte, mas pede que se criem condições para que essa mudança possa acontecer, sem custos excessivos para os docentes — não necessariamente através de subsídios, mas com apoios das câmaras no arrendamento das casas, sugere. “Um professor que venha para Lisboa com um horário incompleto fica com um salário inferior ao salário mínimo. Isso é o que paga por uma casa. A questão não é criar uma carreira diferente, é criar condições de deslocação dos professores para as áreas que são carenciadas”, afirma.

Para dia 11 de fevereiro, promete “a maior manifestação de sempre de professores”.