O escândalo do Qatargate abalou a confiança dos cidadãos no Parlamento Europeu (PE) e mostrou como a instituição deveria ter tido mecanismos que pudessem ter detetado os “sinais de alarme” mais cedo, reconhece a presidente Roberta Metsola. Mas a maltesa contesta que se tome a parte pelo todo e que o PE seja visto como um “paraíso para os corruptos”. “Não podemos permitir que o Parlamento fique com essa imagem”, afirma.

Em entrevista ao El Mundo, a propósito de uma visita a Espanha de preparação da presidência espanhola, no segundo semestre do ano, Roberta Metsola diz que quando tomou posse, em janeiro de 2022, nunca imaginou que iria ter de lidar com um caso como o Qatargate, em que altos funcionários do Parlamento Europeu estão a ser acusados de ter recebido dinheiro em troca de favores. Mas frisa que a instituição tomou “medidas imediatas”, como a suspensão do mandato da (agora ex) vice-presidente Eva Kaili.

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“Não posso dizer que isto não voltará a acontecer, não posso dizer que a corrupção será eliminada para sempre, mas o Parlamento deveria ter tido controlos e barreiras de segurança para que os sinais de alarmes tivessem soado mais cedo. E vou encarregar-me de que agora [esses controlos] estejam ativos”, garante.

Metsola sublinha que o caso que levou à demissão, e detenção, da vice-presidente do PE Eva Kaili não representa o trabalho do Parlamento — era, diz, um “enredo” isolado que se movia “sistematicamente” dentro ou em torno da mesma comissão —, rejeitando que a instituição que lidera seja um “paraíso para os corruptos”. “Não enquanto eu estiver no comando”.

Para evitar “danos de reputação a longo prazo”, Metsola insiste no pacote de medidas para reforço da transparência, embora admita que haverá medidas “mais complicadas de implementar”. “Vamos trabalhar num registo de transparência eficaz para restringir os acessos, para ver que sanções aplicar àqueles que infringem as regras”, explica.

Sobre as críticas do Presidente da Hungria Viktor Orbán — que pediu a dissolução do Parlamento Europeu depois de conhecido o Qatargate — Metsola responde que não permitirá que a instituição seja usada como uma “arma”. “A confiança foi quebrada e temos de a reconstruir. Não será fácil, mas não permitirei que ninguém que tente destruir a UE utilize o Parlamento como arma para o fazer. Responderei a cada ataque”.

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Metsola garante que teve “pouca interação” com o lobby dos países envolvidos no Qatargate. Diz que recebeu um pedido do emir do Qatar para discursar no Parlamento Europeu, mas foi recusado. Além disso, pediu “cuidado” aos líderes dos grupos políticos com os convites para assistir ao campeonato do mundo no Qatar.