Uma retrospetiva dedicada a André Gil Mata, um cineconcerto com uma “raridade do cinema mudo português” e a estreia de um projeto social envolvendo residentes com raízes no Bangladesh são alguns dos destaques de fevereiro e março do cinema Batalha.

De acordo com a programação do Batalha — Centro de Cinema, no Porto, anunciada esta segunda-feira, a 09 de fevereiro começa um ciclo dedicado ao realizador André Gil Mata, desvendando um percurso que “aborda questões de uma escala existencial e reflexiva universal, em que o cinema é encarado como ato redentor e forma de preservar a esperança”.

A retrospetiva contará com três longas-metragens e cinco curtas, incluindo, em estreia nacional, “O pátio do carrasco”, inspirado na obra “Um Fratricídio”, de Franz Kafka, e que remete ainda para o pátio onde terá vivido Luís Alves, considerado o último carrasco, antes da abolição da pena de morte em Portugal.

Este filme está na programação do Festival de Cinema de Roterdão, que decorre nos Países Baixos.

O renovado cinema Batalha vai ainda ter uma retrospetiva da obra do realizador e argumentista norte-americano Melvin van Peebles, que “dedicou a vida a provar que é possível produzir filmes feitos por e para a comunidade afro-americana”.

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Melvin van Peebles, que morreu em 2021 aos 89 anos, começou a fazer curtas-metragens ainda nos anos de 1960 nos Estados Unidos, mas foi em Paris que conseguiu financiamento para a sua primeira longa-metragem, “La permission” (1968), inspirada pela ‘Nouvelle Vague’ francesa.

O filme “La permission”, que será exibido no Porto, “seria o início de um cinema em que a comunidade negra reclamava o poder de se representar, olhando-se na profundidade do espelho com as suas dúvidas e anseios”, lê-se na página oficial do Batalha.

Nesta primeira retrospetiva do cinema de Van Peebles em Portugal estão ainda incluídos, entre outros, os filmes “Watermelon Man” (1970) e “Sweet Sweetback’s Baadasssss Song” (1971).

“Com um estilo vibrante, de gatilho rápido na montagem e carregado de ‘groove’, Van Peebles viria a ter uma enorme influência na génese do ‘Blaxploitation’ e em várias gerações de cineastas”, sublinha o Centro de Cinema.

Até à primavera, destaque ainda para a estreia, em fevereiro, do “Batalhawood”, um projeto semestral que pretende “estabelecer hábitos de partilha e ligação entre o Batalha e as pessoas que habitam na sua proximidade”.

A primeira edição foi desenvolvida “em colaboração com os vizinhos do Batalha com raízes no Bangladesh, uma das mais antigas e expressivas comunidades imigrantes do Porto”, e contará com os filmes “Aynabaji”, de Amitabh Reza Chowdhury, e “Operation Sundarban”, de Dipankar Dipon.

Na programação de fevereiro e março, disponível em batalhacentrodecinema.pt, está ainda o cineconcerto “Os Faroleiros”, um filme mudo português de 1922, realizado por Maurice Mariaud, e recentemente restaurado no âmbito do projeto de digitalização do cinema português “FILMar”, da Cinemateca Portuguesa.

Este cineconcerto, a 22 de março, conta com uma nova banda sonora, encomendada pelo Batalha a Daniel Moreira e interpretada ao vivo pelo quarteto de cordas The Arditti Quartet.

O filme foi rodado “nas agitadas águas de confluência entre o Tejo e o Atlântico”, por Maurice Mariaud, “e esteve perdido durante décadas, tendo sido encontrado no Palácio do Bolhão, no Porto, em 1993, onde a empresa do produtor Raul de Caldevilla, pioneiro dos filmes de publicidade em Portugal, teve a sua sede”, indica o programa.

Este mesmo filme-concerto estará a 31 de março na Culturgest, em Lisboa, também com The Arditti Quartet, uma das mais premiadas e elogiadas formações dedicadas à música contemporânea e do século XX, segundo a crítica especializada, que inclui as duas datas em Portugal na sua digressão europeia.