A Academia decidiu abrir um processo de investigação à campanha em torno da atriz Andrea Riseborough, nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, que pode resultar no seu afastamento da corrida à estatueta, avançam vários media norte-americanos.

Oficialmente, o organismo apenas confirma que está em marcha “uma revisão dos procedimentos de campanha dos nomeados deste ano”, não especificando se a investigação diz diretamente respeito a Riseborough. Contudo, a imprensa norte-americana não parece ter dúvidas, tendo em conta toda a polémica que tem rodeado esta nomeação.

Riseborough foi nomeada pelo seu papel em “To Leslie”, um filme independente que fez poucos milhares de euros em bilheteira, em que a atriz representa uma mãe solteira que ganha a lotaria, mas acaba por ficar falida devido aos seus problemas de alcoolismo.

A sua interpretação foi de imediato criticada por alguns membros de Hollywood, que consideraram que a nomeação poderia ter sido atribuída a uma atriz negra como Viola Davis (pelo seu papel em “The Woman King”) ou Danielle Deadwyler (“Till”). O realizador de “Till”, Chinonye Chukwu, lamentou publicamente as nomeações.

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Vivemos num mundo e trabalhamos em indústrias que estão tão agressivamente comprometidas com a manutenção da branquitude e a perpetuação de uma misoginia sem vergonha sobre as mulheres negras”, escreveu o realizador, não se referindo diretamente a Riseborough.

A crítica à “indústria”, porém, foi interpretada como uma referência à nomeação de Riseborough. Isto porque a atriz tem sido amplamente elogiada por colegas, tendo a sua nomeação sido apoiada por 1.300 membros do ramo de atores que compõem a Academia, explica o The Times. Publicamente, várias estrelas como Edward Norton, Susan Sarandon e Gwyneth Paltrow apoiaram a nomeação de Riseborough. O The New York Times conta mesmo que Kate Winslet organizou uma sessão de visionamento do filme.

A campanha em torno de Riseborough está em investigação não pelo apoio público de várias estrelas de Hollywood — o que não viola as regras —, mas por causa de um post de Instagram. De acordo com o The Times, o problema estará numa publicação feita na conta do filme “To Leslie” em que foi destacada a frase do crítico de cinema Richard Roeper onde se lê “Por muito que admire o trabalho de [Cate] Blanchett em ‘Tár’, a minha interpretação favorita de uma mulher este ano é a da camaleónica Andrea Riseborough”. Ora, as regras da Academia proíbem a promoção de nomeados à custa de críticas a colegas – e Cate Blanchett também está nomeada para o Óscar de melhor atriz.

Nunca houve um recuo numa nomeação para um Óscar de melhor ator ou atriz. Contudo, há precedente noutras categorias. O The New York Times relembra que um nomeado para melhor canção em 2014 e um nomeado para melhor mistura de som em 2017 foram afastados por terem contactado diretamente membros da Academia a fazer lobby em torno dos seus projetos.