A investigadora portuguesa Susana Viegas, da Universidade Nova de Lisboa, vai liderar um projeto de investigação sobre a Morte, relacionando Filosofia e Cinema, com apoio de financiamento europeu, como contou à agência Lusa.

O projeto, intitulado “Film-Philosophy as a Meditation on Death”, recebeu uma Bolsa de Consolidação, de 1,7 milhões de euros, atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação, e é considerado inédito em Portugal, por abranger a área da Filosofia do Cinema.

Susana Viegas, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, explicou que este projeto tem como objetivo encontrar uma “ferramenta teórica, conceptual” para identificar os filmes que pensam sobre a morte e fazem o espectador pensar sobre a morte.

“O projeto não tem pretensões de analisar todos os filmes possíveis, que já foram realizados. A ideia é ter um critério conceptual para depois analisar qualquer filme. A partir do momento em que temos o conceito e as variantes – e estamos a falar de argumento, técnicas de montagem [entre outros] -, a partir daí ter um mapa conceptual para analisar qualquer filme”, disse.

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Esse critério conceptual sobre a representação e a interpretação da morte no cinema servirá depois como uma ferramenta para futuros investigadores, explicou.

Susana Viegas, 45 anos, doutorada em Filosofia, sublinhou que o que se pretende, no final do projeto, é que se tenha “uma visão mais orientada, mais descomplexada do tema da morte”.

“Todos nós fomos afetados pela crise pandémica e por todas as imagens de morte que fomos recebendo. Senti que essas imagens de morte eram mais assustadoras do que motivo de reflexão. Sempre tive essa noção de que a morte seria um tema fundamental do pensamento filosófico. […] A Filosofia estava ausente dessa reflexão e eu procuro trazer essa proximidade entre uma prática filosófica e a nossa realidade”, defendeu.

A bolsa agora obtida, através do Conselho Europeu de Investigação, permitirá desenvolver o projeto até 2028 com oito investigadores, dos quais cinco com contrato de trabalho, dois com bolsa de doutoramento e um com bolsa de mestrado.

Além do trabalho de investigação, o projeto contará com “uma série de atividades de caráter científico, de disseminação e que procura ser o mais aberto e democrático possível”, referiu Susana Viegas, enumerando a realização de ciclos de cinema gratuitos, seminários e publicações de acesso livre, para o público académico e não académico.

“A investigação e a ciência em Portugal precisam de investimento, a verba parece avultada, mas tendo em conta que há uma grande aposta na contratação e na formação, e no trazer novo conhecimento para uma área emergente, como é a da Filosofia do Cinema, isso é fundamental”, afirmou Susana Viegas.

As Bolsas de Consolidação do Conselho Europeu de Investigação, que “apoiam investigadores individuais, na fase de consolidação do seu programa de investigação independente”, podem ir até um máximo de dois milhões de euros, por um período de cinco anos.

De acordo com a lista de projetos contemplados este ano pelo Conselho Europeu de Investigação, além do trabalho de Susana Veigas e da Universidade Nova de Lisboa, há outros dois projetos portugueses, um da neurocientista Eugénia Chiappe, pela Fundação Champalimaud, e outro do investigador André Martins, do Instituto de Telecomunicações.

A investigadora Liliana Mâncio Silva, que tem trabalhado sobre a malária, também receberá uma bolsa de consolidação por um projeto com o Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica, em França.