A polícia britânica pediu desculpa pelo seu papel na tragédia de Hillsborough, considerada uma das piores da história do futebol. Os representantes máximos do do Conselho Nacional de Chefes da Polícia do Reino Unido (NPCC na sigla inglesa) e do Colégio Policial reconheceram que falhas na atuação das forças de segurança desempenharam um papel decisivo no desenrolar do desastre que matou 97 adeptos do Liverpool durante um jogo da meia-final da Taça de Inglaterra de 1989.

Durante décadas, a polícia rejeitou responsabilidade no evento, optando antes por culpar o desastre na ação de adeptos alcoolizados. A tese nunca foi aceite pelos sobreviventes que, em conjunto com familiares das vítimas e a comunidade de Liverpool, travaram uma luta cívica para apurar as verdadeiras causas do acidente. Investigações independentes conduzidas nos anos seguintes ilibaram os adeptos de qualquer responsabilidade. Já em 2016, o comandante da polícia do condado de South Yorkshire David Crompton tinha pedido desculpa às famílias das vitímas e a todos os afetados pelo pela tragédia.

Agora, a polícia reconheceu o seu papel no desenrolar dos acontecimentos, em resposta a um relatório de 2017. “A polícia falhou profundamente e durante muitos anos para com as famílias enlutadas pelo desastre de Hillsborough”, admitiu o diretor-executivo do Colégio Policial Andy Marsh, citado pela Reuters. “Pedimos desculpa por ter errado de tal forma”.

Ao todo, o desastre matou 97 pessoas: 96 foram esmagadas quando milhares de adeptos do Liverpool tentaram entrar para uma zona sobrelotada do estádio, empurrando os que se encontravam dentro do recinto contra uma área vedada na parte inferior do estádio. Uma 97.ª pessoa morreu em 2021 devido a complicações causadas por danos cerebrais irreversíveis, sofridos no desastre.

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Durante décadas, a polícia rejeitou responsabilidades e culpou o desastre na ação de adeptos alcoolizados.

As falhas policiais foram a principal causa da tragédia e continuam a afetar as vidas dos familiares [das vítimas] desde então. (…) Quando a liderança era essencial, os enlutados foram muitas vezes tratados com insensibilidade, e resposta careceu de coordenação e supervisão”, afirmou Marsh.

Martin Hewitt, presidente do Conselho Nacional de Chefes da Polícia do Reino Unido (NPCC, na sigla inglesa), disse “lamentar profundamente a perda trágica de vidas”, e desculpou-se pela “dor e sofrimento por que as famílias das 97 vítimas passaram nesse dia”.

O responsável defendeu, no entanto, que a polícia tem feito esforços para mudar a sua conduta na sequência do acidente. “Coletivamente, as mudanças efetuadas desde o desastre de Hillsborough e em resposta ao relatório do Reverendo James Jones procuram garantir que as terríveis falhas policiais desse dia e dos anos seguintes não voltam a acontecer”.

As duas organizações comprometeram-se ainda a rever o código de ética usado pelas forças de segurança, contemplando uma melhor gestão de informação e o seu registo e prometendo um maior compromisso com a verdade e a transparência.

Nos últimos anos, a justiça tem vindo a pronunciar-se acerca da responsabilidade das forças de segurança pelas mortes. Em 2016, um juri deu como provado que as mortes tiveram origem em falhas policiais; em sentido inverso, em 2019, David Duckenfield, antigo superintendente chefe da polícia e chefe da operação de segurança no estádio no dia do desastre, foi julgado por homicídio e absolvido, numa decisão que chocou tribunal e familiares das vítimas.

Tragédia em Hillsborough. Ilibado antigo chefe de polícia que tratou da segurança