António Segadães Tavares, o engenheiro civil responsável pela pala do Pavilhão de Portugal (construído para a Expo98, em Lisboa), teceu esta semana duras críticas à dimensão e aos custos do altar-palco projetado para receber o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, que acontece em Lisboa no próximo mês de agosto.

“Os cinco milhões são um exagero manifesto para uma estrutura provisória”, disse Segadães Tavares na terça-feira no Jornal 2, da RTP2.

O engenheiro salientou também que “não era necessário fazer fundações especiais” para o palco — que, além de caro, é também de um tamanho tal que só a 375 metros de distância é que é possível ver o Papa no topo do altar.

“Só a 375 metros é quem um jovem que esteja cá em baixo consegue ver a silhueta. Já não vê o Papa”, disse o engenheiro e professor universitário.

“Na minha opinião, não era necessário estar a fazer fundações especiais. Podíamos entrar com uma conceção de uma estrutura deformável — ela, em princípio, é deformável, a própria cobertura que foi feito, aquele arco em forma de sino, metálico, é uma estrutura extremamente deformável, portanto não tem aquela necessidade de rigidez como um edifício em altura para conter pessoas”, clarificou também.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na segunda-feira da semana passada, o Observador noticiou que a construção do altar-palco onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final da JMJ 2023 foi adjudicada pela câmara de Lisboa à Mota-Engil por 4,2 milhões de euros. A estes, somam-se também os custos das fundações (acima de um milhão de euros) e outros gastos relacionados com estudos, projetos e planos de segurança, que elevam o custo total do palco — que vai ser construído no Parque Tejo-Trancão, perto da Ponte Vasco da Gama — para perto de 5,5 milhões de euros.

A revelação dos custos do altar-palco desencadeou uma enorme controvérsia política em Portugal, com a câmara de Lisboa a atirar responsabilidades pelos requisitos do palco para a Igreja, que por seu turno responsabilizou a autarquia pela decisão de construir uma estrutura permanente em vez de um palco provisório. Pelo meio, Marcelo Rebelo de Sousa deixou apelos à moderação nos gastos — e poderá estar em risco a instalação de um segundo palco, no Parque Eduardo VII, com valores que poderão chegar aos dois milhões de euros.

Nos últimos dias, Segadães Tavares já tinha criticado a obra do altar-palco do Parque Tejo-Trancão, classificando os valores como “escandalosos” numa intervenção aos microfones da TSF.

“A dimensão das fundações tem de ser compatível com as cargas e as cargas que vamos ter são cargas só de cobertura porque para pavimentos podem fazer-se pavimentos flexíveis, de terra batida com revestimento de apoios de proteção”, disse Segadães Tavares àquela rádio.

“Há muitas soluções. Costumo dizer que a engenharia é uma técnica, não é ciência. Não há soluções definitivas, há um leque de soluções possíveis e escolhe-se aquela que for mais adequada e conveniente. Há que ser um bocado pragmático e sensato. O altar tem cargas mínimas, tem é a cobertura, que pesa pouco e é uma estrutura que pode ser deformável. Até estruturas mais pesadas, como a pala do Pavilhão de Portugal, é compatível com deformações diferenciais”, salientou.

“São escandalosos os valores que tenho visto”, acrescentou o engenheiro civil.

Em declarações à CNN Portugal, Segadães Tavares classificou o altar-palco como “uma obra que exorbita as suas necessidades”.

“Até poderia ser uma obra de arte que nos envaidecesse, mas não o é. A partir de 100 metros as pessoas já não veem o palco. É preciso ter aquela altura toda?”, perguntou o engenheiro civil naquele canal de televisão.

“Porquê esta solução? Há soluções muito mais económicas. Há soluções que não obrigam a ter estas intervenções. A solução nem me parece pesada. Mas porquê uma solução do tipo de vela, com tirantes e lonas ou material que permita a cobertura do recinto. É utilizado noutros sítios e resulta”, acrescentou ainda.