É já considerada a maior greve da última década no Reino Unido, depois de ter mobilizado, esta quarta-feira, cerca de meio milhão de pessoas, entre professores, outros funcionários públicos e maquinistas de comboios, que exigem aumentos salariais que lhes permitam fazer face à inflação superior a 10%.

A paralisação desta quarta-feira foi visível nas portas fechadas das escolas e das universidades e no cancelamento de viagens de comboios. Segundo os sindicatos, citados pela Reuters, só professores em greve terão sido mais de 300 mil, numa paralisação que juntou cerca de 500 mil, o número mais elevado de grevistas desde uma greve, em 2011, de funcionários públicos.

De acordo com a Reuters, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, já veio condenar a greve — uma posição que tem sido recorrente desde que as paralisações dispararam — por ter levado milhões de crianças a faltar à escola. “Tenho a certeza de que a educação das nossas crianças é preciosa e que eles merecem estar na escola hoje a aprender”, disse.

A argumentação do governo de Sunak é que ceder às exigências de aumentos salariais, que têm sido transversais a vários setores da economia, iria alimentar ainda mais a inflação no país. No Reino Unido, a inflação tem rondado os 10% nos últimos meses, o valor mais elevado em quatro décadas. Em dezembro, por exemplo, ficou nos 10,5%, um abrandamento face aos 10,7% de novembro, de acordo com a autoridade estatística nacional.

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São os preços das casas, da alimentação e das bebidas não alcoólicas que estão a alimentar a subida dos preços. Os próprios meses não deverão ser muito mais fáceis. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a inflação permaneça acima dos 8% no Reino Unido este ano, com a economia a contrair 0,6%.

Os aumentos salariais que nalguns setores têm sido anunciados não estão a ser suficientes para cobrir toda a inflação, criticam os sindicatos. O Sindicato Nacional de Educação, a maior organização sindical do setor, defende que o aumento médio de 5% para alguns professores este ano é insuficiente, sobretudo porque se segue a uma “erosão salarial” de anos anteriores. É por isso que se têm multiplicado as paralisações pelo país, transversais à economia, do setor público ao privado, da saúde aos transportes.

Esta quarta-feira foi a vez de professores, maquinistas e outros funcionários públicos recorrerem à greve, com uma marcha ruidosa no centro de Londres e cartazes com mensagens como “As crianças merecem melhor” (“Children deserve better“), “Salvem as nossas escolas, paguem mais” (“Save our Schools, Pay Up”) ou “Isto não aconteceria em Hogwarts” (“This wouldn’t happen at Hogwarts!“), relata a Reuters.

Os sindicatos prometem mais paralisações. Só o PCS Union, que representa cerca de 100.000 funcionários públicos de mais de 120 departamentos estatais, já avisou que está disposto a avançar com mais greves. “Se o governo não fizer nada”, diz o secretário-geral, Mark Serwotka, “teremos mais dias como hoje com mais e mais sindicatos a juntar-se”. “Precisamos de dinheiro agora”, atira.

E as próximas semanas serão um desafio para Rishi Sunak, que se verá a braços com uma série de greves e manifestações multisetoriais por aumentos salariais e melhoria das condições de vida. Na próxima semana, é a vez de enfermeiros, pessoal de emergência médica, como paramédicos, e outros profissionais de saúde voltarem à greve. Esta semana, serão ainda os bombeiros a fazer-se ouvir.

De facto, a greve desta quarta-feira foi a primeira de sete dias de uma onda de greves que serão organizadas entre fevereiro e março pelo Sindicato Nacional de Educação e que deverão afetar, parcial ou totalmente, cerca de 23 mil escolas em Inglaterra e no País de Gales.

Os impactos chegam, naturalmente, à economia. O britânico Centre for Economics and Business Research estima que cada dia de greve dos professores tenha um impacto de cerca de 22 milhões de euros. No total, as greves dos últimos oito meses terão lesado a economia em 1,9 mil milhões de euros, cerca de 0,1% do PIB previsto.

A contestação social promete subir de tom, depois de o governo de Rishi Sunak ter anunciado uma proposta de lei que obriga ao cumprimento de serviços mínimos nos bombeiros, nos serviços de emergência médica e no setor ferroviário em caso de greve, segundo a CNN Internacional. Mas o Trades Union Congress, uma central sindical que representa 48 sindicatos, está a organizar dezenas de protestos contra, por considerarem que se trata de um “ataque” ao direito à greve.