Será esta quinta-feira a prometida reunião entre os responsáveis da Igreja para a Jornada Mundial da Juventude, a Câmara Municipal de Lisboa e o Governo para decidir se é possível reduzir o valor das obras para o evento. O bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ, D. Américo Aguiar, diz que vai pedir aos técnicos que “cortem tudo o que não é essencial para a segurança e para corresponder àquilo que é necessário”.

“Amanhã [quinta-feira] quero entender qual é a razão técnica e de custo financeiro para que este custo seja indispensável e tudo o que não for indispensável vamos pedir que se elimine porque não há razão que aconteça. Não queremos  passar uma imagem de riqueza, de ostentação, porque isto fere os portugueses e os jovens”, afirmou, em entrevista ao programa Grande Entrevista, na RTP3.

Falhámos na comunicação do evento“, admitiu o responsável, que assume também que não acompanhou devidamente o processo. “Peço desculpa aos portugueses por não o ter feito, acho a minha obrigação acompanhar, não intrometer na competência da autoridade e instituições, mas pedir para acompanhar, para que possamos validar coisas indispensáveis para a concretização do acolhimento de um milhão de jovens na cidade de Lisboa”, reconheceu.

D. Américo Aguiar refere que o projeto de palco para o Parque Tejo “nunca” foi apresentado, mesmo a ele, que preside à fundação da JMJ. “Não é estranho. O equipamento palco Tejo há de ser entregue à JMJ pela SRU  [a entidade da câmara de Lisboa que está responsável pela obra de transformação do Parque Tejo-Trancão num futuro parque verde], pela Câmara Municipal de Lisboa, para nós o podermos utilizar. O que falhou da minha parte é que entre a adjudicação e o anúncio devia ter antecedido uma partilha e uma explicação da situação”.

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D. Américo Aguiar assegura que para a Igreja “podia e pode” ser um palco mais pequeno. “Mas nós não podemos esquecer, nós não estamos a falar do palco da JMJ, estamos a falar do palco do parque Tejo, que vai ficar para a cidade para sempre”, acrescentou.

Questionado sobre que requisitos a Igreja pediu para o palco, D. Américo Aguiar não confirma que tenha exigido que a estrutura pudesse receber duas mil pessoas. Essa tinha sido uma informação avançada pelo vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia, que numa conferência de imprensa atribuiu à Igreja uma lista de requisitos, incluindo que o palco tivesse capacidade para 2.000 pessoas (mil bispos, 300 concelebrantes, 200 membros do coro, 30 intérpretes de língua gestual, 90 elementos da orquestra, convidados, staff e equipa técnica).

Mas o bispo não confirma essa exigência. “Da nossa parte, partilhámos com as autoridades [como requisitos] que tenha visibilidade, que podem estar X pessoas a concelebrar, o coro, jovens, os convidados”. Mas quantas pessoas, para a Igreja, faz sentido ter? “Isso é relativo”, disse, recusando avançar um número.

“Estamos a estudar a possibilidade de colocar tudo no Parque Tejo”

D. Américo Aguiar confirma, como o Observador noticiou, que o segundo altar-palco, no Parque Eduardo VII, pode vir a ser cancelado. Mas afirma que transferir tudo para o Parque Tejo, como está a ser estudado, tem riscos.

“Durante uma semana, um milhão de jovens no mesmo sítio levanta outros problemas, em relação ao terreno e à vivência da jornada e da cidade. Uma coisa é colocar jovens no centro da cidade, com serviços de restauração, comércio, vivência da cidade. E outra é mais longe, concentrados naquele local”.

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O bispo deixa um pedido aos portugueses: “Peço que deem o benefício da dúvida e, no fim, no dia 7 de agosto, se estiver vivo virei aqui prestar contas direitinho”.

“Prefiro fazer as contas no fim. Acho que 160 milhões não é o que vai acontecer”

Esta semana, em entrevista à RTP, o ex-responsável pela JMJ em Madrid manifestou estranheza quanto ao custo de 160 milhões que o evento terá em Portugal. D. Américo Aguiar diz que “nunca” falou nesse valor — que corresponde à soma dos custos suportados pela Igreja, Governo e câmaras de Lisboa e Loures. “Prefiro fazer as contas no fim. Acho que 160 milhões não é o que vai acontecer. Não vai acontecer isso.”

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“O que disse foi que o orçamento da JMJ, fundação, ronda os 80 milhões de euros. Esses 80 milhões significam entrada de dinheiro da economia”, refere, especificando que 30 milhões serão gastos em alimentação, mais outros montantes, que não especificou, em seguros e transportes. “Isto é injeção na economia”.

Em relação à diferença do custo do evento de Espanha (50 milhões), responde que a organização em Madrid foi diferente e contou com apoios de privados, que em Portugal têm sido mais modestos. “Gostava de ter o conforto empresarial que a Espanha teve e tem. (…) Não temos nem a dimensão nem o músculo”, afirma. Até à data “conseguimos ajuda de 5 milhões de euros de donativos empresariais“.

O presidente da Fundação JMJ, a entidade criada pelo Patriarcado de Lisboa para organizar a JMJ, diz que o evento já tem mais de 10 mil voluntários e 400 mil jovens inscritos, mas indica que ainda é “residual” o número de famílias que se mostrou disponível para acolher participantes. “Cada família precisa de dois metros quadrados, casa de banho e pequeno-almoço”, sendo que o mínimo é de duas pessoas por casa, durante uma semana. Os jovens que queiram ficar em grupos grandes terão à disposição pavilhões ou escolas e instalações militares, por exemplo.

As famílias interessadas em receber participantes podem inscrever-se nas suas paróquias, no site da JMJ, ou no caso de Lisboa, Setúbal e Santarém a ideia é também que a manifestação de interesse possa ser feita nas juntas de freguesia.