“Batem à Porta”

Dois “gays” e a sua filha adotiva veem a sua isolada cabana de férias, situada num bosque, invadida por um quarteto de estranhos que empunham armas artesanais, os manietam e lhes dizem que se não escolherem um deles para ser morto em sacrifício por um dos outros dois, o Apocalipse cairá sobre a humanidade. Serão fanáticos religiosos perigosos, ou será que dizem a verdade? M. Night Shyamalan adapta aqui o “thriller” de terror The Cabin at the End of the World, de Paul Tremblay, sem nunca conseguir instalar o “suspense” e a tensão nas quantidades necessárias para inquietar o espectador e o envolver na história. Além do mais, os atores são maus e os efeitos especiais toscos, há muita palha de “flashbacks” e o final é mais convencional que o do livro. Embora não precisemos de o ter lido para “Batem à Porta” não nos impressionar sobremaneira.

“Ennio, o Maestro”

Giuseppe Tornatore assina este exaustivo e longo (duas horas e meia) documentário biográfico sobre Ennio Morricone, que “conduz” a narrativa graças à entrevista de fundo que o realizador lhe fez pouco antes de morrer, em 2020, e atravessa todo o filme. Tornatore esmera-se a detalhar a vida e a carreira de Morricone, não se limitando à sua abundantíssima produção no campo das bandas sonoras para filmes (mais de 500) e às inovações que trouxe ao género, recordando a sua formação clássica e o seu gosto pela música experimental e de vanguarda, a contribuição para a música pop e ligeira italiana nas décadas de 50 e 60 e o seu trabalho musical fora do cinema. Participam, entre muitos outros, Clint Eastwood, Marco Bellochio, Dario Argento, Quentin Tarantino, Joan Baez, Quincy Jones, John Williams, Bruce Springsteen e Gianni Morandi (pode ler a crítica aqui).

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“Leonora Addio”

Feito já sem o seu irmão e colaborador de sempre, Vittorio, que morreu em 2018, este filme de Paolo Taviani é-lhe dedicado e remete, de alguma forma, para “Kaos”, que os Taviani realizaram em 1984 e onde adaptaram um quarteto de contos de Luigi Pirandello, mais um epílogo que tem como protagonista o próprio escritor. “Leonora Addio” conta, a preto e branco, a história do funeral de Pirandello e do destino das suas cinzas, desde a cremação do Prémio Nobel da Literatura em Roma até à atribulada ida para a Sicília, onde foram colocadas num muro junto da árvore favorita do autor, e é rematado por outro conto de Pirandello, “O Prego”, passado na Nova Iorque dos anos 20 e filmado a cores. É um filme episódico, elegíaco e algo críptico, e com um lado artesanal que tem o seu quê de curiosamente anacrónico.

“Os Espíritos de Inisherin”

O dramaturgo, argumentista e realizador anglo-irlandês Martin McDonagh volta a juntar aqui os seus dois intérpretes de “Em Bruges” (2008), Colin Farrell e Brendan Gleeson. Se neste filme eles interpretavam dois assassinos profissionais irlandeses que estavam em Bruges à espera de ordens do seu patrão e bebiam muita cerveja, visitavam a cidade e tinham conversas que oscilavam entre o banal e o profundo, em “Os Espíritos de Inisherin”, eles são dois grandes amigos, Pádraic e Colm, que vivem na ilha (fictícia) do título nos anos 20 do século passado, situada ao largo da Irlanda, e bebem muita cerveja, olham para o mar e têm conversas banais. Até ao dia em que Pádraic chega ao “pub” local para beber uma cerveja com Colm e este lhe diz, secamente, que já não gosta dele e que se acabaram as conversas entre os dois (pode ler a crítica aqui).