O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, exortou esta quinta-feira os trabalhadores a manterem-se unidos na defesa das suas “justas reivindicações” e considerou que “é obrigatório” que as pessoas reajam ao agravamento das condições de vida.

“Experimentem partir um fósforo com uma mão, é facílimo, pá, partiu. Agora juntem um molho de fósforos e tentem lá parti-los a ver se conseguem: aí é que está o ser dos trabalhadores, na sua unidade, na sua coesão, é aí a vossa força”, disse Paulo Raimundo, perante trabalhadores à porta da General Cable CELCAT, uma empresa de cabos no concelho de Sintra, uma das 50 iniciativas esta quinta-feira realizaras por todo o país, no primeiro dia da ação “Mais força aos trabalhadores”, que decorre até maio.

Com esta ação o PCP quer “contribuir para que os trabalhadores ganhem a consciência de que unidos são capazes de concretizar as suas justas reivindicações”, disse Raimundo, vincando a necessidade de aumentar salários no contexto atual de inflação e deixando críticas ao aumento das taxas de juro de referência e ao consequente aumento das prestações bancárias das famílias.

“Ainda hoje fomos confrontados com uma nova subida das taxas de juro. Isso tem consequências na vida das pessoas, eu cá, para o mês que vem, ainda vou ver qual vai ser a consequência na minha vida”, afirmou Paulo Raimundo, frisando que “as pessoas estão cada vez mais apertadas, cada vez mais espremidas, é obrigatório que reajam”.

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O PCP quer “animar essa reação” não numa lógica de conflito com o governo, mas para “que haja respostas do governo aos problemas das pessoas” e para que se combata a “profunda injustiça” do contraste entre os lucros de algumas empresas e as condições de vida dos trabalhadores.

Sobre lucros das empresas, Raimundo deixou ainda uma crítica ao primeiro-ministro, António Costa, dizendo que na entrevista que deu esta semana à RTP o governante “afirmou que estava tudo a andar bem e tudo sobre rodas e, de repente, veio uma guerra e não foi possível ir mais longe”.

“O que o primeiro-ministro não explicou, também não lhe foi perguntado, foi como é que ele explica então nesse ambiente que as treze [empresas] maior cotadas na bolsa em Portugal nos primeiros nove meses do ano passado tenham tido quatro mil milhões de euros de lucros. A guerra é só para uns?”, questionou.

Interrogado sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, Raimundo insistiu na necessidade de baixar os custos que vieram a público e quanto à organização, acrescentou, em tom bem-humorado: “Tivessem entregado isso ao PCP e o PCP organizava isso com uma grande pinta, muito mais barato posso garantir”, gracejou.

Luís Oleiro, da comissão de trabalhadores disse aos jornalistas que a empresa teve um período de greve quase dois anos seguidos, entre 2018 e 2019, com greves parciais que permitiu aos trabalhadores negociar algumas condições como recuperar o valor das horas extraordinárias, “um aumento salarial a 4%” ou “um subsídio de natal igual ao de férias”.

Os trabalhadores continuam em negociações com a empresa que, segundo Luís, tem atualmente 200 trabalhadores efetivos e 40 temporários, está “em crescimento na produção” e fornece o mercado interno e externo.

Questionado sobre se a iniciativa de contacto com os trabalhadores também visa o recrutamento de militantes, Raimundo disse que “não é esse o foco”, frisando que o que o PCP quer “é animar, criar condições, contribuir para alimentar a unidade dos trabalhadores”.

“Nós somos o partido dos trabalhadores e, portanto, o que queremos é mais trabalhadores no nosso partido, não há dúvida. Mas o que nos move não é isso, o que nos move é animar, criar condições, contribuir para alimentar a unidade dos trabalhadores, para dar força à sua força, porque os trabalhadores unidos são uma força invencível. Se no decorrer disso recrutarmos mais gente para o partido tanto melhor, mas não é esse o nosso foco”, salientou Paulo Raimundo, em declarações aos jornalistas.