É uma história que está a chocar o Iraque. Uma youtuber de 22 anos, Tiba al-Ali, terá sido estrangulada pelo pai durante a noite, no passado dia 31 de janeiro, na cidade de Diwaniyah. O caso, que pode ser visto à luz da legislação iraquiana como um “assassinato de honra”, causou uma onda de revolta. As iraquianas saíram este domingo às ruas para pedir uma maior proteção no que diz respeito aos direitos das mulheres.

Na base das manifestações está o artigo 41 do código penal do Iraque, que permite que os maridos “disciplinem” as esposas, o que inclui espancamentos. Enquanto isso, o Artigo 409 reduz as sentenças de homicídio para homens que matam ou prejudicam permanentemente as esposas ou parentes do sexo feminino devido a adultério para até três anos de prisão.

No caso de Tiba al-Ali, a jovem nem sequer vivia no Iraque, mas terá ido passar férias ao seu país natal. A youtuber contou num vídeo que se mudou para Istambul para continuar os estudos. Entretanto, conheceu o namorado, um investidor imobiliário de nacionalidade síria, e ficou a viver na cidade turca.

No entanto, existem outros motivos que poderão ter justificado a mudança para a Turquia. À Agence France-Presse, Hanaa Edwar, ativista de direitos humanos, contou que a youtuber foi vítima de abusos sexuais pelo próprio irmão — e isso espoletou a mudança para Istambul.

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A mudança para outro país terá sido o principal ponto de discórdia entre o pai e a filha, tendo originado uma discussão na noite antes da morte de Tiba al-Ali. O progenitor não concordava com a mudança da youtuber — que contava com 20 mil subscritores — para a Turquia, nem sequer com o casamento com o namorado sírio.

Saad Maan, porta-voz do Ministério do Interior iraquiano, citado pela Sky News, confirmou a morte da jovem de 22 anos e indicou que a tutela tentou fazer de tudo para “resolver a disputa familiar”. Além disso, o responsável do governo revelou que o pai admitiu às autoridades que havia sido ele a matar a filha.

Tendo em conta a legislação iraquiana — e a tal exceção do “assassinato de honra” — o pai da jovem pode enfrentar uma pena que vai de um a três anos.

O caso da jovem fez assim soar o alarme sobre a violência contra as mulheres no Iraque e a necessidade de reformar a legislação para sanções mais duras aos agressores. Na manifestação deste domingo, havia quem empunhasse faixas a condenar o assassinato da estrela de YouTube, exigindo reformas legislativas, indica a AP.

“Não há honra no crime de matar mulheres”, lia-se num cartaz. “Qualquer um que se queira livrar de uma mulher acusa-a de desonrar a sua dignidade e mata-a”, disse Israa al-Salman, manifestante, à AP, que também apelava a que o pai de Ali fosse executado.

A vice-diretora da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte da África, Aya Majzoub, em comunicado à imprensa, considerou “que a violência contra mulheres e jovens no Iraque irá continuar” até que “as autoridades iraquianas adotem uma legislação robusta” para as proteger “da violência de género”.