Manuel Carvalho da Silva, ex-líder da confederação sindical CGTP, está surpreendido com a evolução do Governo, nomeadamente com a “capacidade de aceleração para o precipício” revelada pelo primeiro-ministro António Costa.

O também ex-militante do PCP diz que “há muitos portugueses zangados”. Porquê? Porque a sucessão de casos que tem marcado a actividade do Governo nos últimos meses revela um desrespeito das “obrigações inerentes ao exercício do poder. (…) O que vemos é a ausência de respostas a problemas, por exemplo, no caso do ensino, uma fuga ao encarar das responsabilidades, um excesso de tacticismo e a ausência de uma visão programática estratégica bem delineada”, defende.

A política orçamental das “contas certas”, que defende o controle do défice orçamental e a redução da dívida pública, merece fortes críticas de Carvalho da Silva. “A expressão contas certas não é mais do que eufemismo que o PS utiliza para políticas de austeridade” — políticas essas que significam, no entender do ex-líder sindical, “limitações aos direitos das pessoas” e sacrifícios para os trabalhadores e para setores mais frágeis da sociedade”.

Mesmo assim, Carvalho da Silva considera que “António Costa é um político experimentado e pode fazer os ajustes necessários e levar a legislatura até ao fim”.

Greve dos professores. “Sindicatos tradicionais terão papel muito ativo” na solução

Carvalho da Silva recusa que a FENPROF, o sindicato da CGTP, tenha perdido a capacidade de liderar os protestos e encara o fenómeno do STOP, o sindicato que tem liderado os protestos dos professores, como normal. “Com os camionistas, com os enfermeiros, com todos os outros, aconteceram ao longo da história situações semelhantes”, diz.

Contudo, acrescenta, nem sempre o que reivindica mais é o que vai resolver o problema. “Para haver solução, em democracia, as coisas têm que ser reconduzidas a um quadro de diálogo. E aquilo a que chamaram os sindicatos tradicionais terão um papel muito ativo na resolução dos problemas”, defende.

“Os professores estão a fazer uma denúncia da situação em que se encontram, que é de achincalhamento e de exaustão, por carga de trabalho lectivo e burocrático”, conclui.

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