Mês após mês, o boletim estatístico produzido pela associação Automóvel de Portugal (ACAP) reporta o crescimento na venda de novos veículos animados pelas chamadas “energias verdes”, isto é, automóveis 100% eléctricos a bateria (BEV), híbridos convencionais (HEV) e híbridos plug-in (PHEV). Ainda assim, a adesão a alternativas de mobilidade mais sustentável seria ainda mais expressiva, por parte dos portugueses, caso estes considerassem que os modelos eléctricos e híbridos que chegam ao mercado praticam preços equivalentes aos dos seus rivais a combustão. Mas não é isso que acontece. De acordo com o relatório Consumer Spotlight sobre “Compra de carro em 2023”, os portugueses estão cada vez mais despertos para as questões ambientais, mas 65% afirma que comprar um carro híbrido ou eléctrico não é uma opção, devido ao preço elevado. Isto apesar de 52% ter assumido que pretende comprar carro este ano, com quase 30% a dizer-se inclinada para escolher um modelo mais barato em preço e em custos de utilização (combustível e manutenção).

Carros eléctricos vão ser mais baratos que os rivais a gasolina em 2027

Há muito que se tenta “adivinhar” quando é que será atingida a paridade de preços. Em 2021, um estudo da Bloomberg NEF antecipava que os BEV deverão ser mais baratos que os seus concorrentes a gasolina em 2027, previsão essa válida para todos os segmentos. E são vários os fabricantes que reconhecem a necessidade de lançar modelos a bateria mais baratos, a começar pela própria Tesla, mas não é expectável que isso aconteça antes de 2025.

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A Volvo, por exemplo, trabalha num EX30, um pequeno SUV eléctrico que vai ser apresentado em Junho. Mas, atendendo a que o seu novo topo de gama a bateria, o EX90, foi revelado em 2022 e só deve ser introduzido no mercado no final de 2023, início de 2024 (apesar da marca já estar a aceitar reservas), o EX30 também pode demorar dois anos a chegar às estradas europeias. Situação idêntica com os há muito prometidos eléctricos baratos do Grupo Volkswagen. Com o emblema da Cupra, da Skoda e da Volkswagen, esses modelos ainda permanecem como protótipos e só deverão adoptar a roupagem definitiva a partir de 2025.

Se espera o VW eléctrico de 20.000€, prepare-se: o “baratinho” deve sair mais caro

Por outro lado, também a Renault atira lá mais para a frente o lançamento dos seus modelos eléctricos mais baratos, com o ressurgimento do R4 e do R5, agora eléctricos. Este último destina-se a suceder ao Zoe e está previsto para 2024, com o R4 a surgir um ano depois. Pelo que se sabe, a marca do losango pretende colocar a versão de entrada do R5 por um valor abaixo dos 25.000€, o que significa que será 10.000€ mais barato do que o Zoe neste momento (35.150€). Mais do que isso, a cumprir-se (mesmo) essa promessa, o futuro R5 vai ser mais acessível que o actual Twingo eléctrico (desde 27.020€). E, comparando com o Clio mais barato que hoje se encontra à venda nos concessionários da marca, o futuro R5 só perde em preço para a versão a gasolina TCe 90 (20.415€), equiparando-se ao Blue dCi 100 (24.615€).

Já sabemos o preço do futuro Renault 4. Promete!

Enquanto os eléctricos realmente mais baratos não chegam, excepção feita para casos isolados como o Dacia Spring (desde 17.300€), os consumidores portugueses revelam-se retraídos em ponderá-los como opção de compra. Segundo o relatório citado, elaborado pela Liberty Mutual com a Kantar e a Red C para a Liberty na Europa (Portugal, Espanha, Irlanda e Irlanda do Norte), embora mais de metade dos portugueses inquiridos (55% de um universo de 500 entrevistados) admita comprar um carro electrificado em 2023, sobretudo as faixas etárias entre os 18 a 54 anos, quando está em cima da mesa adquirir um carro novo em vez de um usado, 65% aponta o preço alto como principal factor dissuasor para a compra de veículos eléctricos ou híbridos.

A contribuir para o afastamento deste tipo de viaturas da shortlist de potenciais compras, especialmente os modelos com baterias recarregáveis, está o facto de 25% dos inquiridos considerarem que a rede de carregamento ainda não está suficientemente disseminada, enquanto 22% disseram que não podiam ou não queriam instalar uma wallbox em casa, o que é essencial para conseguir energia a um preço mais interessante, sobretudo durante o período da noite.

O questionário que permitiu medir o pulso ao interesse dos consumidores em veículos mais amigos do ambiente foi realizado em Novembro e Dezembro de 2022, envolvendo um total de 1800 condutores. Além dos 500 portugueses, participaram neste estudo irlandeses e espanhóis.