“Com Amor e com Raiva”

Sob a direção de Claire Denis, Juliette Binoche e Vincent Lindon interpretam, em “Com Amor e com Raiva”, um casal (ela jornalista de rádio, ele antigo jogador de râguebi que cumpriu uma pena de prisão e está a refazer a vida) cuja felicidade é comprometida quando a mulher reencontra o antigo amante, que vai ser sócio do seu companheiro num novo empreendimento, e acaba por o trair. Esta nova variante da velha (e muito francesa) história do triângulo amoroso baseia-se num livro da escritora Christine Angot e assenta na contradição entre a vontade de ser fiel e a tentação irresistível do desejo, embora seja tudo tratado pela rama, em especial a figura do terceiro elemento, quase uma sombra, e a densa banda sonora dos Tindersticks não seja nada apropriada a esta história, e mais indicada para um filme policial.

“Tori e Lokita”

Os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne apresentam mais um dos seus filmes “sociais”, hiper-realistas e impermeáveis ao sentimentalismo. Lokita é uma adolescente e imigrante ilegal que está instalada num centro de acolhimento de uma cidade belga, juntamente com o pequeno Tori, que a acompanhou na viagem de África até à Europa e finge ser seu irmão. Para terem dinheiro para enviarem às famílias e pagarem a quem os trouxe, vendem droga para o cozinheiro de um restaurante que a cultiva e trafica. Os Dardenne repetem-se já há algum tempo e “Tori e Lokita”, no meio do seu maniqueísmo demonstrativo, serve, pelo menos, para mostrar como a imigração descontrolada conduz à exploração desumana por parte dos passadores africanos e de alguns dos que acolhem quem foge dos seus países.

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“Tár”

Lydia Tár (Cate Blanchett), a protagonista de “Tár”, de Todd Field, tem a batuta da prestigiada Orquestra Sinfónica de Berlim, é compositora aclamada, está a preparar uma nova gravação da “5ª Sinfonia” de Mahler, vai lançar a autobiografia e tutela um programa de bolsas que promover a formação de raparigas para serem maestros. Lydia é lésbica e casada com a primeiro violino da orquestra que dirige, e têm uma filha adoptiva etnicamente correta. Tudo parece estar bem no melhor dos mundos, mas o seu superior talento e o seu apertado controlo sobre tudo o que a rodeia vão ser postos em causa, quando uma ex-assistente e pupila se suicida, e ela começa a ser atacada nas redes sociais e acusada de ser uma predadora sexual. É um caso de #MeToo às avessas. “Tár” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui<.