Fotografias inéditas da infância e correspondência do escritor português Vitorino Nemésio, totalizando cerca de 100 peças, foram doadas por familiares à Biblioteca Luís da Silva Ribeiro, na ilha Terceira, da qual é natural.

A diretora da Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, Claúdia Cardoso, disse à Lusa que os herdeiros de um primo de Nemésio entenderam depositar todo este espólio do autor de “Mau Tempo no Canal” naquela instituição, a par de livros, uma vez que este património apresentava “já sinais visíveis de deterioração”, o que vai implicar uma intervenção de conservação e restauro.

O espólio legado, que permite revistar a sua vida e obra, contempla postais ilustrados, “sobretudo da altura em que Nemésio viajou por França, Bruxelas e Brasil” e enviava-os às tias, primas e uma afilhada, bem como aos próprios país, especifica Cláudia Cardoso.

A também investigadora ressalva que, “de certa forma, é possível traçar o percurso biográfico do escritor, que é conhecido”, mas “aqueles documentos em particular, não”.

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O depósito de documentos contempla também cartas dirigidas pelo escritor a sua mãe, que abordam “muitos aspetos pessoais, alguns de interesse”, assim como fotografias inéditas, como uma que mostra Nemésio, ainda pequeno, com cerca de três anos.

Isto a par de outras que ilustram a sua presença em convívios em Porto Martins, na ilha Terceira, com pessoas que lhe eram próximas.

Apesar da documentação de Nemésio já estar distribuída pela Biblioteca Nacional e Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo, Cláudia Cardoso sublinha o seu agrado por “ainda surgir o interesse e cuidado por parte de familiares na conservação patrimonial conscientes que a instituição reúne as características certas para acolher esta documentação”.

O que assistimos naqueles documentos é a perspetiva pessoal da saudade de casa e dos familiares, uma vez que, na altura, as viagens não se faziam com a rapidez de hoje, implicando meses e anos de ausência”, afirma a responsável pela Biblioteca Luís da Silva Ribeiro, que salvaguarda que a documentação agora doada permite aos estudiosos de Nemésio enriquecer a sua visão sobre o autor.

Uma edição das obras completas do escritor Vitorino Nemésio, em 16 volumes, começou a se lançada em 2018, numa iniciativa da editora Companhia das Ilhas com a Imprensa Nacional.

Vitorino Nemésio, cuja obra literária compreende, entre outros, o título “Mau Tempo no Canal”, considerado pela crítica literária um dos maiores romances portugueses do século XX, nasceu em 19 de dezembro de 1901, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, e morreu em Lisboa, em 20 de novembro de 1978.

A sua obra compreende cerca de 40 títulos na área da ficção, poesia, ensaio e crítica, a par da crónica, como “Festa Redonda” (1950), “Nem Toda a Noite a Vida” (1952), “O Pão e a Culpa” (1955), “O Verbo e a Morte” (1959), “O Cavalo Encantado” (1963), “Canto da Véspera” (1966) e “Sapateia Açoriana” (1976), além de “Mau Tempo no Canal” (1944).

A Vitorino Nemésio é atribuída a criação do termo “açorianidade”, num artigo sobre a condição histórica, geográfica, social e humana do açoriano, publicado em 1932.

Apesar do seu potencial literário, Vitorino Nemésio ganhou visibilidade nacional através do seu programa semanal, na RTP 1, “Se bem me lembro”, entre 1969 e 1975.