A ANA – Aeroportos de Portugal considera que os dois incidentes que aconteceram nos aeroportos do Porto e de Ponta Delgada, divulgados em dezembro pelo Expresso, são “muito graves”, garantindo a empresa que incentiva ao reporte das ocorrências, não penalizando os trabalhadores. Os incidentes envolveram viaturas Follow Me, da ANA, que se encontravam na pista na altura de manobra de aviões — um na aterragem, outra na descolagem.

“Não se pode minimizar nenhum incidente na aviação. É a primeira prioridade. Não minimizo em nada [o que aconteceu]. A incursão de pista é sempre muito grave e tem de ser analisado a fundo”, afirmou Thierry Ligonnière, presidente da ANA.

Numa audição parlamentar, o presidente executivo da ANA explicou que se conseguiu evitar problemas maiores devido aos procedimentos instalados para as viaturas, mas não quis minimizar os incidentes. “Felizmente não tiveram consequências maiores pela consciência do condutor do Follow Me e das tripulações a bordo dos aviões”, realçou o responsável, que fez questão de garantir que a “ANA obviamente cumpre sempre rigorosamente a regulação aplicável”, acrescentando que os regulamentos têm evoluído. Mas salientou que qualquer alteração que se pretenda fazer tem, primeiro, de ter o aval do regulador.

Segundo explicou o responsável, as viaturas Follow Me da ANA que fazem as inspeções e as manutenções das pistas dispõem de dois rádios: um rádio tetra para comunicar com a torre de controlo da NAV; e outro designado de scanner só para ouvirem as ligações entre a torre e os aviões, e que só permitem aos utilizadores das viaturas da ANA mexerem no volume, mas por vezes desconfiguram só por mexer em alguns botões (nas versões anteriores. Nas versões compradas mais recentemente isso já não é possível). “A taxa de disponibilidade técnica dos scanners está em 100%” e quando há problemas “são substituídos logo, substituímos regularmente estes equipamentos”. No entanto, quando o gabinete de acidentes foi inspecionar não estava a viatura com rádio operacional.

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Questionado sobre se contactou a NAV, depois dos incidentes, o gestor garante que “não tomamos contacto diretamente com a NAV, é papel do regulador e não da ANA”.

O gestor garante que os utilizadores das viaturas têm também um conjunto de procedimentos que têm de cumprir e verificar. E defendeu a existência de dois rádios, em vez de estar tudo integrado num único equipamento, até por uma questão de redundância. Ainda assim o Thierry Ligonnière admitiu, tal como sugerido pelo deputado do PSD Paulo Moniz, avançar para um sistema de geolocalização dos veículos e analisar a incompatibilidade das trajetórias dos veículos em pista e dos aviões. “É uma coisa que estivemos a discutir” e admite “analisar a exequibilidade técnica de implementar uma solução desta natureza. É uma melhoria significativa em matéria de segurança e vamos continuar a discutir e analisar”.

“Tudo o que favorece a consciência situacional é bom para a segurança”, deixando a questão sobre o excesso de comunicação se prejudica ou beneficia essa consciência.

A audição do presidente da ANA foi requerida pelo Chega, depois de noticiados os incidentes que foram analisados pelo GPIAAF (Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários).

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Pelo PS, Hugo Oliveira, começou por criticar a realização da audição, até porque, disse, aconteceu no seguimento de uma notícia sobre um relatório preliminar que “à data não devia ser público”, mas depois de comunicado o relatório final, acrescentou o deputado, “parece não fazer sentido que desse azo à manutenção do requerimento” para ouvir a ANA. “Da minha parte não irá ouvir pedidos de incriminação a entidades”, porque “o PS não tem vontade de apurar nenhuma responsabilidade, mas sim ajudar a encontrar medidas que possa evitar incidentes”. Para Hugo Oliveira incriminar pessoas poderá levar a que no futuro escondam a existência de ocorrências.

Da ANA ouviu a garantia de que existe na empresa “o princípio de não prejudicar quem está a alertar. Não pode ser prejudicado. Incentivamos isso, que as pessoas possam notificar as coisas e informar para recolhermos um conjunto de informações”.

Por outro lado, “tentamos cada vez que acontece alguma coisa num dos aeroportos que as lições retiradas destes acontecimentos sejam utilizadas em todos os aeroportos, e não apenas nos da ANA. Fazemos parte de um grupo que gere 70 aeroportos, e, por isso, temos uma abordagem transversal e de benchmarking com outros aeroportos do que está a ser feito”.

No relatório aos incidentes, o gabinete de prevenção fez à ANA algumas recomendações, nomeadamente a de implementar em três meses a padronização de procedimentos de inspeção de pista. Mas para o responsável da ANA a padronização total não é benéfica, até porque cada pista é distinta. Ainda assim já houve padronização parcial.