Apostando num futuro 100% eléctrico, a Renault está consciente que, até lá, vai precisar de veículos menos poluentes e que pesem menos na carteira, com o motor principal a gasolina mas não necessariamente híbridos plug-in (PHEV), uma vez que esta tecnologia caiu em desgraça por não ser utilizada correctamente, tendo já perdido o acesso às ajudas na Alemanha, moda que promete alastrar-se a outros mercados. Daí a mecânica full hybrid do Austral, um SUV do segmento C, o mais importante na Europa e o 2.º em Portugal, com que a marca pretende fazer a diferença.
Construído sobre a plataforma CMF-CD da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, a mesma que dá origem ao Qashqai, o Austral vem substituir o Kadjar oferecendo mais espaço interior, mais equipamento e mais requinte, tendo já recebido 10.000 encomendas globalmente, segundo os responsáveis pela Renault Portugal, 67% das quais são referentes à versão mais cara, a Esprit Alpine (que estreia aqui, em substituição do Initiale Paris).
Já aqui tínhamos falado deste SUV francês, aquando da apresentação internacional do modelo (que pode ver em baixo). Mas agora que tivemos oportunidade de o conduzir mais prolongadamente, por ocasião da sua chegada ao mercado português, é altura de percebermos melhor se está à altura das expectativas que criou.
Duas versões, mas reina o híbrido com 200 cv
A gama nacional do Austral é composta por duas mecânicas distintas, uma mild hybrid (mHEV), mais simples, menos possante e mais acessível, e a segunda full hybrid (HEV), mais sofisticada e, sobretudo, mais potente e económica. A mild hybrid, ou híbrida ligeira, recorre ao motor de quatro cilindros sobrealimentado com 1333 cc, que fornece 160 cv e 270 Nm, reforçado pela presença de um pequeno motor eléctrico de 12V e uma mini bateria com apenas 0.15 kWh de capacidade que, entre outras pequenas vantagens, assegura o modo de condução “à vela”, em que corta o motor de combustão quando em plano ou em descidas ligeiras. Ainda assim, o Austral mHEV 160 cv, além dos 175 km/h de velocidade máxima e 9,7 segundos de 0-100 km/h, anuncia um consumo de 6,2 l/100 km, a que correspondem emissões de 138 g de CO2/km.
Apesar da versão mHEV ser mais acessível, o SUV da Renault mais popular deverá ser o Austral HEV, que extrai 200 cv da mecânica híbrida. Esta associa ao motor de combustão a gasolina, um 1.2 Turbo com 131 cv e 205 Nm, um motor eléctrico a 400V com 68 cv e 205 Nm, existindo ainda a bordo um segundo motor eléctrico, este com somente 34 cv, destinando-se apenas a gerar energia para recarregar a bateria com recurso ao motor de combustão. O motor eléctrico principal é alimentado por uma bateria com 2 kWh de capacidade (1,7 kWh úteis), maior do que o habitual para um HEV, com a finalidade de elevar o nível (e a duração) da ajuda ao motor a gasolina, além de proporcionar cerca de 5 km em modo eléctrico, dependendo das condições e perfil do terreno. Nós, durante o teste, conseguimos entre 2 e 3 km sem “despertar” o motor 1.2 Turbo. O resultado são 175 km/h de velocidade máxima e 8,4 segundos de 0-100 km/h, mas o que é mais importante é um consumo médio de 4,6 l/100 km e emissões de 104 g de CO2/km. Isto apesar de pesar quase 60 kg mais do que a versão mHEV de 160 cv.
O modelo do Austral que conduzimos, o HEV com 200 cv, estava ainda equipado com o sistema 4Control Advanced, uma solução de quatro rodas direccionais em que as traseiras também viram, a baixa velocidade para ajudar a agilidade do modelo em cidade, conferindo-lhe o mesmo raio de viragem de um pequeno Clio, para depois a velocidades mais elevadas optimizar o comportamento em curva, inclinando menos a carroçaria e descrevendo as curvas mais fechadas com outra eficiência.
SUV virado para o asfalto e surpreendentemente ágil
Nas estradas algarvias, enquanto atravessávamos a serra de Monchique, o 4Control Advanced confirmou a sua eficácia, ajudando a evitar surpresas naquelas curvas que fechavam de repente, impedindo que o SUV fugisse de frente, para depois se tornar mais previsível nas curvas mais abertas, contribuindo para a eficácia do comportamento num modelo que exibe uma regulação da suspensão mais para pisos de asfalto do que para estradas de terra em mau estado. O 4Control obriga ainda à montagem de um eixo traseiro com rodas independentes, o que só por si melhora o conforto e o comportamento.
O percurso em auto-estrada rumo ao sul e, no dia seguinte, em sentido contrário, serviu-nos para determinar o consumo e aqui o Austral HEV reservou-nos algumas das surpresas mais agradáveis. A primeira foi o funcionamento do Active Driver Assist, o dispositivo que mantém a velocidade, a distância ao carro da frente e o SUV ao centro da faixa de rodagem, permitindo-nos uma condução mais relaxada, ajudada por um head-up display com bastante informação. Com o programador de velocidade fixado nos 90 km/h, o Austral HEV registou um consumo de apenas 4,3 l/100 km, um dos mais baixos do segmento. A 120 km/h o valor subiu, como seria de esperar, mas somente para 5,7 l/100 km, também ele um valor muito interessante.
7 anos de garantia e preços a partir de 34.200€
O novo Renault Austral está disponível entre nós nas versões mHEV com 160 cv, com os níveis de equipamento Equilibre e Techno, por 34.200€ e 36.700€, respectivamente. Contudo, o construtor acredita que será o Austral mais potente, o HEV de 200 cv, a merecer a preferência do público, sendo esta versão oferecida em três linhas de equipamento distintas. A mais acessível destas é o Techno Esprit Alpine (39.700€), a que se segue o Iconic (41.700€) e o Esprit Alpine, o topo de gama, proposto por 46.200€.
O novo SUV híbrido da marca francesa é Classe 1 nas auto-estradas nacionais, se equipado com Via Verde, uma vez que tem uma altura ao nível do rodado anterior entre 1,1 e 1,3 metros. Mas o Austral estreia ainda o mais recente argumento comercial do construtor, que consiste numa garantia de 7 anos ou 150.000 km, o que deverá representar um descanso extra para os clientes particulares.