No âmbito de um projecto financiado pela Comissão Europeia, a Ford procurou arranjar forma de não prejudicar a autonomia dos seus modelos eléctricos, sobretudo os que desperdiçam mais energia no aquecimento do habitáculo por a sua actividade implicar a abertura e o fecho contínuo de portas, para recolha ou entrega de mercadorias. Daí que a marca da oval azul tenha recorrido a um furgão de entregas 100% eléctrico, a Ford E-Transit, e testado soluções complementares à utilização do ar condicionado. A conclusão é que é possível manter condutor e passageiros quentinhos, incrementando ainda a autonomia. Como? Com recurso a superfícies aquecidas.

Segundo a marca, “os engenheiros descobriram que, recorrendo a superfícies aquecidas, o consumo de energia para aquecimento do habitáculo poderá ver-se reduzido em 13%, em comparação com o de um sistema de ar condicionado tradicional, podendo aumentar a autonomia do veículo eléctrico em 5% com uma carga normal”. Por outras palavras, podem ser centenas de quilómetros que não se perdem devido à ineficiência na utilização da energia para manter a bordo uma temperatura agradável. A Ford sublinha que “com os sistemas de aquecimento convencionais, a partir do ar condicionado activado, a autonomia diminuiu em cerca de 30%”, ou seja, em vez de percorrer os 317 quilómetros que a E-Transit homologou em WLTP, o furgão viu o seu alcance baixar nada menos que 95,1 km por causa do ar condicionado, limitando-o a 222 km com uma carga completa, o que é manifestamente “curto” numa actividade que vive das deslocações. Em contrapartida, sem abdicar do ar condicionado mas reduzindo o calor por ele gerado, e combinando esse menor débito de energia com as superfícies aquecidas, também alimentadas pela bateria do veículo, os engenheiros da Ford conseguiram esticar a autonomia em 5%, a uma temperatura de -7ºC.

Todos sabemos que se as portas ou janelas forem abertas quando está mais frio no exterior, a temperatura no interior de um veículo desce. Isto é especialmente importante nos veículos de entregas, uma vez que os condutores entram e saem frequentemente, fazendo com que o calor gerado pelo ar condicionado seja perdido mais rapidamente, enquanto as superfícies aquecidas permanecem quentes”, esclareceu o engenheiro de sistemas da Ford Europa, Markus Espig.

A E-Transit alterada montava sistemas de aquecimento nos apoios de braços, tapetes, painéis das portas, palas de sol e um painel no volante, tendo sido submetida aos testes de autonomia na zona de Colónia, Alemanha, no Verão e no Inverno para alargar o espectro de variáveis climatéricas e a diversidade de condições de circulação. De acordo com a marca, os seus modelos eléctricos Mustang Mach-E e E-Transit já dispõem de funcionalidades para maximizar a eficiência energética, caso do pré-condicionamento programado da bateria e da temperatura no habitáculo, mas os futuros modelos pretendem ir ainda mais longe (literalmente). E isso passará pela inclusão de uma bomba de calor com injecção de vapor, como a que já faz do equipamento de série da E-Transit Custom.

A investigação no âmbito do chamado Connected Electric Vehicle Optimised for Life, Value, Efficiency and Range Project (CEVOLVER) distribuiu 5 milhões de euros por 10 parceiros de seis países europeus, destinando à Ford 1,1 milhões de euros. A marca norte-americana, que tem como meta vender anualmente 600.000 veículos eléctricos na Europa até 2026, diz ter ainda testado outras soluções para poupar energia, nomeadamente um permutador de calor, um sistema de arrefecimento da bateria, além do pré-aquecimento ou arrefecimento da bateria antes de submeter o pack a cargas rápidas. Contudo, não foram avançadas conclusões quanto a estes testes, com a marca a mencionar apenas que este tipo de tecnologias pode “proporcionar melhorias significativas em termos de poupança de energia e de tempo”.

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