Falando num contexto económico diferente, a Altice Portugal apresentou-se, em conferência de imprensa, como uma empresa “bem mais sólida do que há oito anos”, quando a empresa de Patrick Drahi e Armando Pereira adquiriu a sociedade que era, então, Portugal Telecom.

Ana Figueiredo, que assumiu a presidência executiva da empresa há um ano, esperava, segundo expressou, que já não tivesse de responder sobre a eventual venda da Altice Portugal — “achava que já tínhamos respondido cabalmente a isso”. O mesmo é dizer que afasta a venda.

E, por isso, agora apresenta o que diz ser “um novo ciclo de reinvenção e paradigma, a ambição continua a mesma, a de olhar o futuro com confiança, acreditar que Portugal tem ativos ótimos. Queremos desenvolver e queremos ser promotores de desenvolvimento em Portugal”, e por isso deixa um recado aos concorrentes: o objetivo é liderar em todos os segmentos. Liderar e exportar. “A partir da Altice Portugal e de Portugal criamos ideias e projetos que exportamos”.

O novo ciclo arranca com cinco objetivos: liderar em qualidade de serviço, liderar a transição digital do país, liderar em sustentabilidade, liderar na atração e retenção talento e consolidar a liderança e rentabilidade. No caso da exportação, um foco para a Altice Labs, que tem hoje 20 patentes, mas que a empresa quer atingir as 100 até 2030. E neste início de novo ciclo Ana Figueiredo garante não estar planeado novo programa de rescisões.

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Em conferência de imprensa, Ana Figueiredo fala do contexto desafiante, com aumentos de custos, em particular da energia, pressão que diz sentir-se desde 2020, não apenas na energia, mas também nos equipamentos. E com a procura de serviços crescentes.

Sem se alongar sobre a Anacom, que tem realçado a necessidade de se olhar novamente para os limites das fidelizações, Ana Figueiredo assume: “A fidelização não é um tema”, assumindo que há alternância entre operadores, dizendo que a prova disso é o facto de a Altice ter conseguido assumir a liderança no segmento da televisão, destronando a Nos, que era a principal operadora nesse setor. Cita ainda um estudo o qual diz refletir que Portugal é o terceiro país da União Europeia em que os clientes mais de movimentam entre operadores.

“Para nós, para Altice como grupo, é bastante importante o papel dos reguladores. O importante é que haja canais de diálogo e comunicação, daí constroem-se soluções. E aí podemos construir soluções válidas, o que é importante para o setor”. No apoio à resposta da CEO, João Zúquete da Silva, administrador da empresa, refutou as acusações do presidente da Anacom, de que havia um embuste nas fidelizações, explicando que essas fidelizações “não existem por termos mau feitio”, mas por uma questão de previsibilidade e capacidade de investimento.

Anacom pede ao Governo que “faça rápido” redução do prazo das fidelizações

Além do polémico tema das fidelizações, a Altice fez saber que a atualização tarifária que leva em linha de conta a inflação, que em 2022 atingiu os 7,8%, é para manter. E não fez mais do que aconteceu em outros países, assumindo que a subida foi apenas nas mensalidades. Salienta que o contexto  é distinto e que como operadora tem tido um aumento de custos elevado, desde 2020.

Neste novo ciclo, a Altice vê o setor a consolidar-se na Europa, e mesmo a nível mundial. Em Portugal vai dizendo que dificilmente “não deixariam adquirir outra operação”, dada a dimensão da empresa. “Mas se fizer sentido obviamente estaremos sempre abertos a explorar novas oportunidades”. Sobre o processo de consolidação que existe em Portugal — a Vodafone está a tentar comprar a Nowo — a Altice vai lembrando que existia, por ocasião do leilão para o 5G, restrições na aquisição de espectro por parte dos operadores móveis existentes. E por isso Ana Figueiredo diz esperar que “nos remédios aplicados” seja tido em conta a forma como as frequências de 5G foram adquiridas.

O 5G é uma das redes que a Altice promete alargar e não assume atrasos. Diz já ter 90% da população com cobertura 5G, devendo chegar ao final do ano aos 95%. No próximo mês promete fazer chegar esta infraestrutura móvel a Pedrógão Grande. Ana Figueiredo diz que, no entanto, o que releva neste segmento é a qualidade do serviço e não a quantidade de antenas que cada operador tem. Ao mesmo tempo que desenvolve o 5G, a Altice garante continuar a investir no 4G, “ao mesmo tempo que abandonamos tecnologias legadas, como o cobre”, assume. O objetivo da Altice, que já terá sido apontado à Anacom, é que o cobre vá sendo descontinuado, em seis fases. A primeira será em 2028, terminando em 2033. A rede de fibra ótica é o que permanecerá. E esta está já a ser gerida pela Fast Fiber, na qual a Altice Portugal tem 51%, com controlo de gestão, mas segundo garante a operadora, “a estratégia é definida pelos dois sócios”. O outro é um sócio financeiro, ligado a um fundo.

Ainda nas redes da Altice, a empresa assume que está à espera de resposta do Governo e da Anacom sobre as condições que pretende ver estabelecidas para continuar a ser a operadora da TDT (televisão digital terrestre). Ana Figueiredo diz que informou o regulador e o Governo que “teríamos interesse em renovar [a licença] se um conjunto de condições fossem garantidas, já que nos 15 anos que operamos a licença tivemos vicissitudes e queríamos garantir previsibilidade. (…) Aguardamos a posição da Anacom e do Governo”.

Sobre a possibilidade de vender o datacenter da Covilhã, Ana Figueiredo diz apenas que “a nossa vida é feita de procura de novas oportunidades e áreas para investir. Como podem chegar propostas de outros players a quererem comprar ativos que temos ou a investir na potencialização desses ativos”. E mais não disse, até porque expressou o grupo Altice está em período de limitação de afirmações porque na próxima semana apresenta resultados e é uma empresa cotada.

Também foi por isso que não revelou a totalidade do investimento realizado em 2022, ainda que assuma que a empresa tem uma capacidade de investimento constante. Tal como assume querer “consolidar” o negócio da energia, o que “não quer dizer que não estamos atentos a novas oportunidades”.