Mais de um milhar de filipinos assinalou este sábado, em Manila, o 37.º aniversário da revolução “Poder ao Povo”, que conduziu pacificamente à expulsão em 1986 do antigo ditador Ferdinand Marcos, pai do atual chefe de Estado. Este é o primeiro comício do género desde que Ferdinand Marcos Júnior se tornou Presidente em junho de 2022.

O atual chefe de estado enviou uma coroa de flores ao monumento “Poder ao Povo”, erguido para comemorar a revolução, e para o qual os manifestantes convergiram, ao som de uma banda de rock.

As duas décadas no poder do pai, Ferdinand Marcos, foram descritas como um período negro na história das Filipinas, marcado por abusos dos direitos humanos e corrupção.

Em comunicado, Ferdinand Marcos Júnior recordou “tempos de sofrimento” e como todos emergiram “mais unidos e mais fortes como uma nação”. O governante propôs uma “reconciliação com aqueles que têm inclinações políticas diferentes”. Palavras que não convenceram os manifestantes, incluindo os sobreviventes da lei marcial e de um regime que causou milhares de mortos, torturados e encarcerados.

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Alguns gritavam “Marcos, Duterte, todos iguais, ditadores fascistas”, em referência também ao antecessor de Ferdinand Marcos Júnior, Rodrigo Duterte. A ativista dos direitos humanos Mary John Mananzan exortou os filipinos a “permanecer vigilantes” sobre o regresso da família Marcos ao poder.

O desafio é manter viva a “mensagem e o espírito” da revolta que expulsou Ferdinand Marcos do poder e enviou a família para o exílio, disse Julio Montinola, de 53 anos, à agência de notícias France-Presse (AFP).

Em 1986, centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas de Manila durante quatro dias, apoiados pelo exército, numa revolta contra o regime. O clã Marcos fugiu da residência presidencial a 25 de Fevereiro a bordo de um avião militar norte-americano, carregado de jóias, ouro e dinheiro.

“Infelizmente, não há o mesmo eco com a nova geração”, lamentou Montinola, reconhecendo que Ferdinand Marcos Júnior foi eleito “pelo povo”. A família Marcos regressou às Filipinas em 1989, após a morte de Marcos Ferdinand, e recuperou gradualmente peso político no país, até à vitória do filho do antigo ditador nas eleições presidenciais de maio de 2022.