O ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, Sameh Shukri, visita a Síria e a Turquia na segunda-feira, dois países com os quais o Cairo estava num impasse diplomático há mais de uma década antes de uma reaproximação recente.

Segundo o gabinete do chefe da diplomacia do Cairo em comunicado, esta visita “é uma mensagem de solidariedade do Egito com estes dois países irmãos, após o terramoto” de 6 de fevereiro, que matou mais de 40 mil pessoas na Turquia e na Síria.

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Após o sismo, o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, falou por telefone com o seu homólogo sírio, Bashar al-Assad, uma conversa sem precedentes entre os dois chefes de Estado.

Em seguida, Sissi telefonou para o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com quem não mantinha relações, mas ambos trocaram um primeiro aperto de mão em novembro, no mundial de futebol do Qatar.

As relações com a Turquia só melhoraram muito recentemente, após o arrefecimento desde que Sissi chegou ao poder em 2013, depois de derrubar o Presidente islâmico Mohamed Morsi — de quem Ancara era um fervoroso defensor. Os chefes da diplomacia egípcia e síria também falaram por telefone.

Assad está diplomaticamente isolado, principalmente no cenário árabe — a Síria ainda está suspensa da Liga Árabe, que tem sede no Cairo — desde o início da repressão a um levantamento popular em 2011 que degenerou em guerra civil.

Mas desde o sismo que devastou a Síria e a Turquia, os países árabes retomaram o contacto e enviaram ajuda a Damasco, num sinal de que pode sair do isolamento diplomático no seguimento da tragédia.

Uma delegação parlamentar árabe, liderada pelo presidente do parlamento egípcio, Hanafy el Gebaly, visitou hoje a Síria para se reunir com o Presidente Bashar al-Assad.

A visita segue-se a uma decisão tomada na sexta-feira pela União dos Parlamentos Árabes em Bagdade, para “expressar apoio à Síria”, após o terramoto do passado dia 06 que causou a morte de milhares de pessoas e uma ampla destruição em áreas do noroeste do país, alguns fora do controle do regime de Assad.

“A posição árabe apoia o retorno da Síria ao seu ambiente árabe e para a Síria, o país irmão árabe, desempenhar o seu papel em todos os níveis na arena regional e internacional”, disse El Gebaly em Damasco, segundo a agência de notícias oficial síria, SANA.

Além do político egípcio, a primeira alta autoridade do Cairo a visitar Damasco em mais de uma década, a delegação é composta pelos líderes dos parlamentos dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Jordânia, Palestina, Omã e Líbano, além do secretário-geral da União Interparlamentar árabe, o jordano Fayez Al Shawabkeh, segundo a SANA.

Nas últimas semanas, altos funcionários da Jordânia, Líbano e Emirados Árabes Unidos passaram pela capital síria, num sinal de aproximação desde o conflito no país há mais de uma década.

Mesmo antes do terramoto, houve alguns pequenos gestos de normalização por parte de países como a Jordânia ou Kuwait, enquanto o movimento islâmico palestiniano Hamas anunciou em outubro passado uma reconciliação com a Síria.

O ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Faisal bin Farhan, cujo país é um dos mais críticos de Al Assad, garantiu há uma semana que o “consenso no mundo árabe” é que a forma como se aborda a questão síria “não está a funcionar” e que uma nova abordagem é necessária.

O conflito na Síria já matou mais de 300 mil pessoas e deslocou metade da população do país de 23 milhões.