A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) alertou esta segunda-feira que a organização das urgências metropolitanas vai implicar o encerramento noturno das urgências pediátricas dos hospitais de Loures e do Barreiro, “colocando em risco os cuidados de proximidade”.

Segundo a FNAM, a Urgência Pediátrica do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em Loures, vai encerrar no período noturno a partir de 1 de março, uma decisão que se prende com a saída de quatro pediatras, o que torna “impossível assegurar a escala de urgência 24 horas por dia”.

A Federação Nacional dos Médicos disse ainda ter conhecimento de que está também em risco a urgência pediátrica aos fins de semana no Hospital Beatriz Ângelo e que foi noticiado também encerramento noturno da urgência pediátrica do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo a partir quarta-feira.

Urgência pediátrica noturna do hospital do Barreiro vai encerrar a partir de março

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Questionado esta segunda-feira sobre estas duas situações, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, rejeitou o eventual fecho das urgências pediátricas.

“Sempre que as coisas não estão a funcionar como devem, eu fico preocupado com esse facto. Devo dizer que, no caso concreto da região de Lisboa, isso tem de ser tratado no contexto da organização das urgências metropolitanas, porque foi isso que nós fizemos em outras regiões do país”, afirmou Manuel Pizarro em Alcácer do Sal (Setúbal), no arranque da iniciativa Saúde Aberta pelos concelhos do litoral alentejano.

Aludindo ao trabalho em curso pela direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para a implementação de um novo modelo para as urgências, o ministro da Saúde lembrou que esta reorganização já está no terreno na área metropolitana do Porto, “há muitos anos” e “com sucesso”.

“Na cidade do Porto, a urgência metropolitana de pediatria está em funcionamento há quase 20 anos. Durante o dia ela funciona nos dois hospitais, no Hospital de Santo António, no centro maternoinfantil, e no Hospital de são João, e depois durante a noite a urgência pediátrica é concentrada no Hospital de São João”, explicou, acrescentando que esta organização “responde à procura que existe das pessoas” e não cria “dificuldades”.

Para a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, as declarações do ministro “não são surpreendentes e revelam mais uma vez a falta em resolver o problema básico desta questão, que é criar condições para fixar os médicos nas várias instituições do SNS“.

“Se houvesse médicos suficientes não era preciso estarmos aqui a pensar em encerramentos de serviços, porque essa reorganização metropolitana vai implicar que estes hospitais não tenham esse serviço e que os doentes e os utentes, neste caso crianças e adolescentes, tenham que ser referenciados para um ou dois polos”, disse a presidente da FNAM à agência Lusa.

Joana Bordalo e Sá advertiu que não se pode comparar a Urgência Metropolitana de Pediatria do Grande Porto com a região de Lisboa e Vale do Tejo, “porque são muitos mais quilómetros”, alertando que o acesso e a rapidez com que os menores vão ser atendidos vão provavelmente ficar comprometidos com a concentração das urgências num polo, “seja ele qual for”.

“É um drama” como está a acontecer com a ginecologia obstetrícia e com a reorganização da psiquiatria, “por causa de uma sangria de recursos humanos” no SNS.

“Enquanto não se criarem condições, os médicos vão continuar a sair. É isso que está a acontecer e, em particular agora, no Hospital Beatriz Ângelo, onde nos últimos cinco anos mais de uma dezena de pediatras saíram. E é preciso perceber porque é que saíram”, declarou.

Para Joana Bordalo e Sá, o problema deve ser resolvido na origem “e não tentar remediar com estas soluções, que não têm lógica” nem para os médicos nem para a população que “vai ficar a descoberto”.