A EDP e a EDP Renováveis anunciaram a intenção de realizar dois aumentos capital de mil milhões de euros cada. As operações vão representar a entrada de um novo acionista nas duas empresas, o fundo soberano do estado de Singapura.

No caso da EDP Renováveis, uma empresa detida pela GIC PTe, fundo soberano de Singapura, assinou um acordo para subscrever a totalidade do aumento de capital de mil milhões de euros, o que permitirá tornar-se num acionista qualificado da EDPR com cerca de 5% do capital. Esta operação tem como objetivo financiar um plano de investimentos de 20 mil milhões de euros.

O aumento de capital da casa-mãe, também de mil milhões de euros, vai recolher fundos para a oferta pública de aquisição (OPA) que a EDP lançou sobre a sua subsidiária brasileira, a EDP Brasil.

As operações foram anunciadas esta madrugada no mesmo dia em que a elétrica anuncia o plano estratégico ao mercado em Londres onde se destaca a previsão de investir 25 mil milhões de euros até 2026. A grande maioria desta verba, 21 mil milhões de euros, terá como destino as energias renováveis.

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EDP fez acordos com chineses, Abu Dhabi e Singapura para garantir fundos

Para assegurar a realização dos dois aumento de capital, a elétrica anunciou acordos de investimento com três investidores internacionais asiáticos — Singapura, Abu Dhabi e China — que são detidos pelos respetivos estados e gerem fundos públicos.

No caso da EDP, esses acordos representam compromissos de subscrição de até 600 milhões de euros no aumento de capital. Um destes investidores é já o maior acionista da elétrica, a China Three Gorges. Foram também assinados acordos com uma empresa detida pelo fundo soberano do Abu Dhabi, que já foi acionista de referência da EDP, e com uma afiliada da GIC PT, o fundo soberano de Singapura. A subscrição dos três investidores está sujeita a condições de mercado e limites de preço que será determinado quando a transação for lançada.

“O compromisso destes investidores em subscrever ações da EDP está sujeito à decisão de a EDP lançar a transação em momento apropriado tendo em conta as condições de mercado”.

Os acordos com estes três investidores representam 60% do valor do aumento de capital anunciado e sua execução poderá resultar em alterações da estrutura acionista da maior empresa portuguesa. A China Three Gorges controla atualmente 21% da EDP, depois de ter falhado uma tentativa de OPA lançada em 2018.

Os outros dois investidores que vão entrar na operação não constam dos acionistas que têm pelo menos 2% do capital da elétrica. Ainda que a GIC de Singapura já seja uma investidora de longo prazo na EDP, esclareceu Miguel Stilwell de Andrade na conferência de imprensa realizada após a apresentação do plano. Questionado sobre alterações na estrutura de acionistas, o presidente executivo da EDP destacou a capacidade da empresa de atrair dois mil milhões de euros de capital de todas as geografias, considerando que a “estrutura diversificada e internacional com acionistas de todo o mundo é uma das forças da empresa”.

Para além da empresa pública chinesa, são acionistas qualificados da EDP o fundo de investimentos americano BlackRock, com 9,37%, a Fundação Masaveu ligada a um grupo das Astúrias, com 7,2%, e um fundo de pensões do Canadá com 5,99%. Stilwell de Andrade referiu que a Fundação Masaveu, que está no conselho geral e de supervisão de EDP, terá a oportunidade de analisar a operação e decidir se quer participar. Se não o fizer, irá reduzir a sua posição. O aumento de capital não dará direito de preferência aos atuais acionistas e já teve parecer favorável do conselho geral e de supervisão da elétrica e não precisa de autorização da assembleia geral porque o seu montante é inferior a 10% do capital da EDP.

Stilwell de Andrade esclareceu ainda que dos 600 milhões inscritos neste acordo, a China Three Gorges irá assumir cerca de 300 milhões de euros, o que lhe permite manter os atuais 21%. A GIC de Singapura irá subscrever 200 milhões de euros e o fundo do Abu Dhabi irá aplicar entre 100 a 150 milhões de euros.

Fundo de Singapura injeta mil milhões na EDP Renováveis

Para o aumento de capital da EDP Renováveis, foi assinado um acordo com uma empresa subsidiária do fundo soberano de Singapura que se compromete a subscrever a operação na sua totalidade a um preço entre os 19,25 euros e os 20,5 euros por ação. A EDP Renováveis tem a opção de realocar até 150 milhões de euros que pode oferecer a um conjunto de investidores qualificados pelo mesmo preço. O compromisso assumido com o GIC (fundo de Singapura) está sujeito à decisão da empresa de lançar a transação “num momento apropriado em relação às condições de mercado”.

Miguel Stilwell de Andrade clarificou que a empresa de Singapura irá ficar com cerca de 5% da EDP Renováveis, considerando a atual capitalização bolsista de mais de nove mil milhões de euros. E reafirmou o objetivo de a EDP manter pelo menos 70% do capital da Renováveis, o que afasta mais colocações de capital a novos investidores, pelo menos desta dimensão.

A EDP Renováveis adquiriu no ano passado a Sunseap, uma empresa de energias renováveis de Singapura, o que lhe deu acesso a um grande portefólio de projetos de energia solar em países como o Vietname, Malásia, Indonésia, Tailândia, China, Camboja e Japão. A entrada do fundo de Singapura no capital das duas empresas é a confirmação de que o sudeste asiático passou a ser uma das geografias de referência para a EDP, a par com o Brasil, Estados Unidos e Europa.

EDP Brasil sai da bolsa, mas EDP vai continuar a investir

A oferta sobre a EDP Brasil visa adquirir as ações detidas pelos acionistas minoritários e retirar a empresa da bolsa. A EDP detém já 56% do capital da empresa que está cotada no Bolsa de São Paulo, a Bovespa. A oferta incide sobre mais de 240 milhões de ações e o preço proposto de 24 reais por ação representa um prémio de 22,2% face à cotação média.

A empresa liderada por Miguel Stilwell de Andrade justifica esta oferta com o objetivo “de simplificar a estrutura corporativa e organizacional da EDP, conferindo assim maior flexibilidade para a gestão financeira e operacional das respetivas operações no Brasil, e alinhando com a sua estratégia de foco em energias renováveis e redes de eletricidade”.

Em conferência de imprensa, o CEO da EDP defendeu que a retirada da EDP Brasil da bolsa tem racionalidade industrial. “Faz sentido olhar para as operações combinadas da EDP Brasil e da EDP Renováveis e avaliar como poderemos otimizar estas organizações no Brasil”. Miguel Stilwell de Andrade sublinhou que a empresa mantém o compromisso com o Brasil.  “Somos investidores de longo prazo, já atravessamos muitos ciclos políticos e vemos muitas oportunidades. Acreditamos nas pessoas e nos ativos e no mercado”.

EDP cada vez mais internacional, prevê investir três mil milhões em Portugal

A revisão do plano estratégico até 2026 apresentado esta quinta-feira em Londres prevê que o investimento anual do grupo cresça 30% face ao plano anterior para atingir um montante de 6,2 mil milhões de euros. O grosso destas verbas, 85%, será canalizado para as energias renováveis e executado através da EDP Renováveis. Neste bolo a eólica offshore tem a maior fatia prevista.

Cerca de 15% do montante será mobilizado para as redes elétricas em mercados de alto crescimento baixo risco, segundo a EDP que destaca quatro hubs regionais — Europa (40% do investimento), América do Norte (40%), América do Sul (15%) e Ásia-Pacífico (5%). Para Portugal são apontados investimentos de três mil milhões de euros durante este período, o que corresponde a pouco mais de 10% do plano total e inclui os projetos de hidrogénio verde. Metade deste valor será alocado às redes de distribuição para acolher mais potência renovável e geração descentralizada.

A estratégia de rotação de ativos irá manter-se, o que significa que a EDP irá vender alguns negócios e projetos para poder investir em outros. O CEO indicou numa conferência de imprensa em Londres que a cedência de ativos poderá representar 30% do portefóleo do grupo.

A EDP anunciou esta semana lucros de 679 milhões de euros em 2022. O plano agora apresentado prevê uma forte subida dos lucros anuais até 2026 para 1,4 a 1,5 mil milhões de euros. No mesmo ano, e a nível global, o grupo espera ter 14.000 empregados, atualmente são 13.200, e nove milhões de clientes. A EDP espera contratar mais 2.000 pessoas, tendo especial foco na atribuição de cargos de liderança a mulheres.

EDP lucrou 679 milhões em 2022. Portugal continuou a ter prejuízos de 257 milhões

As ações da EDP fecharam com perdas de 1,5%, enquanto as ações da EDP Renováveis deram um salto superior a 5%.