Os deputados do grupo parlamentar do Partido Socialista recomendaram ao Governo que avalie classificar o arquivo do Jornal de Notícias (JN), periódico fundado em 1888, no Porto.

Os 20 deputados socialistas que assinaram o projeto de resolução, datado de 23 de fevereiro e que deu entrada na Assembleia da República na sexta-feira, recomendam ao Governo que “desenvolva as diligências necessárias para avaliação e possível classificação do arquivo do JN atendendo à sua extensão editorial, administrativa, redatorial, gráfica, fotográfica e documental”.

Os deputados recordaram no projeto de resolução que o arquivo do JN “testemunhou, analisou, comentou, ilustrou e fotografou o estertor da monarquia, a instauração da República”, bem como atravessou duas guerras mundiais, uma guerra colonial e três revoluções nacionais (instauração da República, revolução sidonista e instalação do Estado Novo e a Revolução de Abril).

“Sete meses após a classificação do Arquivo do Diário de Notícias (DN) como de interesse nacional, parece-nos importante que se faça uma avaliação da outra metade da história contemporânea do país, e se avalie a possibilidade de inscrever nessa memória a mundividência vivida, escrita e lida a partir do Norte do país, colocando ambas num inestimável e insubstituível serviço ao país e a todos os nossos concidadãos que, hoje e amanhã, são tributários da memória para melhor construir o nosso futuro”, lê-se no texto.

O documento entregue no parlamento recordou que o JN foi fundado em 1888 e é hoje o segundo mais antigo periódico nacional em atividade com edição diária e o único jornal de dimensão nacional ainda em circulação com sede fora de Lisboa, depois do fecho dos jornais O Comércio do Porto (2005) e O Primeiro de Janeiro (2014).

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Segundo os deputados socialistas, o JN tem um espólio que traduz uma “mundividência distinta das demais, passadas e presentes, patente nos textos, imagens, ambientes e estórias contidas nas edições e outros documentos, fotografias e outros materiais que formam a natureza única e o volume imenso do arquivo”.

Para os deputados que apresentaram o projeto de resolução, o arquivo do JN “representa um acervo único de documentação sobre acontecimentos centrais na vida portuguesa e internacional e também sobre a vida de inúmeras personalidades, incluindo também pastas contendo as provas à censura, peças únicas que documentam a forma como as comissões de Censura e de Exame Prévio amputaram ou proibiram dezenas de milhares de textos e imagens e privaram os leitores de informações essenciais”.

Em julho do ano passado, o jornalista Pedro Tadeu assinou um artigo de opinião intitulado “Porque é que o Arquivo do JN não é Tesouro Nacional?”, nas páginas do Diário de Notícias.

“Qualquer pessoa que vá ao Arquivo da [Global Media Group] e consulte, por exemplo, um ano do princípio do século XX no Diário de Notícias e o mesmo ano no Jornal de Notícias verifica que os políticos, os dignitários da Igreja Católica, os barões da indústria, os líderes laborais, os dirigentes associativos, os clubes desportivos, os artistas, os escritores, todos os famosos que aparecem e intervêm são diferentes entre os jornais do Porto e de Lisboa”, escreveu o jornalista, que foi diretor de documentação da Global.

Na altura, Tadeu acrescentou: “Classificar o Arquivo do DN sem classificar o Arquivo do JN é ignorar metade da história contemporânea do país e é desprezar a sociedade nortenha. Classificar o Arquivo do DN sem classificar o Arquivo do JN é só achar importante uma metade do que nós, portugueses, somos”.

Em setembro, o Conselho de Redação (CR) do JN redigiu um manifesto “Em defesa do JN e do seu património”, partilhado dois meses depois pelo Sindicato dos Jornalistas, no qual era abordada a situação do arquivo do diário.

“É urgente garantir o acesso efetivo dos jornalistas e investigadores ao espólio arquivístico do JN, mantendo-o em instalações próprias adstritas à Redação. Mas é também manifesta a utilidade de proceder à sua classificação como bem arquivístico de interesse nacional. Por isso, exorta-se a Administração da empresa a garantir a preservação imediata e acessível do acervo e a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas a proceder à abertura urgente do procedimento com vista à referida classificação”, escrevia o CR do JN, no ano passado.