28 de fevereiro de 2007, Nivelles, na Bélgica: Geneviève Lhermitte, mãe de cinco crianças, escreveu duas cartas, numa delas a contar o que se preparava para fazer. Saiu de casa e roubou duas facas de um supermercado, que viria a usar para, momentos depois, degolar os filhos, nalguns casos enquanto lhes pedia perdão. Tentou suicidar-se, mas não conseguiu. O caso chocou a Bélgica desde então e entrou, no último dia de fevereiro — precisamente 16 anos depois do crime —, num novo capítulo: Geneviève foi eutanasiada, a seu pedido.

“Quero que as pessoas percebam que ela pagou mil vezes na sua cabeça a sentença. Para nós, isto encerra definitivamente o processo”, disse um representante da família, citado pelo espanhol ABC. Geneviève Lhermitte, que morreu a 28 de fevereiro deste ano, foi condenada a prisão perpétua em 2008 e transferida em 2019 para um hospital psiquiátrica, onde teria alguma liberdade de movimento. Aí, voltou a tentar o suicídio, mas também sem sucesso.

Segundo o representante da família, aos órgãos de comunicação belgas, Geneviève “sofria psicologicamente de forma permanente”. Pediu para ser eutanasiada e o pedido foi aceite, depois de recolhidos “vários pareceres médicos”, segundo o advogado, citado pela BBC. A Bélgica permite a eutanásia a quem sentir, comprovadamente, um sofrimento psicológico “insuportável” e não apenas físico, que não tenha cura. A pessoa tem de ser capaz de explicar o motivo de forma bem fundamentada e estar consciente da dimensão do pedido, o que os advogados asseguram que aconteceu.

Durante o julgamento, os advogados tinham argumentado que a mulher tinha problemas mentais e que não deveria ir para a cadeia. Ainda assim, o juiz considerou que Geneviève matou os filhos de forma premeditada, pelo que a considerou culpada de homicídio. A mulher viria a ser condenada a prisão perpétua.

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Em 2010, segundo a BBC, chegou a processar o antigo psiquiatra, a quem exigiu até três milhões de euros por “inação”, mais concretamente por não ter conseguido evitar os assassinatos perpetrados pela paciente. Mas desistiu do processo dez anos depois.

Os crimes aconteceram em 2007, quando o marido de Geneviève estava em viagem em Marrocos. Segundo conta o ABC, a mulher estava casada com um homem marroquino amigo de um médico belga, para a casa de quem a família viria a mudar-se.

A 28 de fevereiro de 2007, Geneviève escreveu duas cartas, uma destinada à irmã, a quem deixava joias, e outra para uma amiga, onde explicava o que se preparava para fazer, em que criticava o médico e acusava o marido de não ter ouvido os seus avisos. Depois degolou os filhos, que tinham entre três e 14 anos, com facas que tinha roubado de um supermercado. Uma das filhas foi primeiro atingida na cabeça com uma placa de mármore.

Geneviève tentou suicidar-se com uma das facas, mas como não conseguiu chamou os serviços de emergência. Dezasseis anos depois, o caso que chocou a Bélgica ao longo destes anos chega ao fim com a eutanásia da mulher, aos 56 anos.

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