A 13 de fevereiro, ocorreu o mais recente tiroteio nos Estados Unidos. Foi na Universidade Michigan State que um homem de 43 anos entrou em dois edifícios e disparou sobre as pessoas que foi encontrado, acabando por matar três alunos e ferir outros cinco.

Não tardou a que, no rescaldo da tragédia, a Universidade lançasse uma campanha oficial de apoio às vítimas. “Spartan Strong”, o lema da mascote da Universidade, estava impresso nos vários tipos de merchandising cuja venda servia para reunir fundos que cobrissem as despesas médicas dos feridos. O problema é que, como noticia o The New York Times, não tardou a que a campanha fosse copiada por burlões.

Temos visto um aumento no número de esquemas que envolvem produtos sem licença da Spartan Strong”, reconheceu ao jornal Dan Olsen, porta-voz da Universidade.

Uma realidade que, no entanto, não é nova. “Os burlões atacam quando o ferro está quente”, explica ao jornal Bennett Weiner, responsável da ONG de monitorização Wise Giving Alliance. “Quando há um momento emocional — um desastre, um tiroteio horrível, um sismo — eles veem isto como uma oportunidade para desviar dólares ganhos a custo para os seus próprios fins.”

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Os exemplos recentes em tiroteios no país abundam. Após o ataque na escola primária de Uvalde (Texas), as próprias autoridades alertaram para o número de contas fraudulentas criadas através do mecanismo online GoFundMe, o que levou a empresa a criar um mecanismo de verificação, lembra a NBC. Já anteriormente, em 2017, um tiroteio num festival em Las Vegas levou a Comissão Federal de Comércio a alertar para “pedidos suspeitos de donativos”.

George Jepsen, antigo procurador-geral do Connecticut, descobriu mesmo, segundo o Washington Post, que no caso do tiroteio na escola primária de Newtown (2012), só 9,3 milhões dos 28 milhões de dólares angariados foram diretamente para as vítimas e as suas famílias.

O impacto nas famílias das vítimas é enorme. Wes King, filho de uma mulher que foi morta num tiroteio num supermercado em 2001, ficou em choque quando descobriu que tinham sido criados dois fundos para recolher donativos em nome da sua família que não tinham qualquer relação com os King: “Não só estamos a lidar com a perda súbita da minha mãe e com esta enorme tragédia na nossa cidade, agora temos estas pessoas a tentarem sacar umas massas à custa do pior dia da vida de alguém“, lamentou à altura o filho.

Bob Weiss, que perdeu a filha num tiroteio na Universidade da Califórnia em 2014, recordou como a sua família “nunca viu um cêntimo” do dinheiro angariado para as vítimas.

Não quero ficar rico, mas com as despesas do funeral e tudo o resto, 50 mil dólares teriam ajudado muito”, lamentou-se o pai da vítima.

O problema é difícil de contornar porque, como explica o Times, as campanhas de angariação de fundos nos EUA não têm de divulgar publicamente os seus registos — ao contrário do que acontece com as ONG. “Alguns burlões são peritos em fazer disto o seu emprego a tempo inteiro”, lamenta Laurie Styron, diretora de outro grupo que tenta lidar com o problema, a CharityWatch.