À luz dos números e do passado recente, era impossível prever um desfecho assim. Antes do empate frente ao Crystal Palace e da derrota com o Arsenal, ambos consentidos nos descontos, o Manchester United tinha uma série de nove vitórias consecutivas. Daí até ao encontro em Anfield, em quatro competições distintas (uma a valer título, a Taça da Liga), foram também nove vitórias e dois empates. Aliás, no próprio encontro frente ao Liverpool, a desvantagem mínima no marcador ao intervalo não retratava da melhor forma o que se passara em campo. Depois, e em 45 minutos, tudo o que podia correr mal, correu ainda pior. No final, acabou em 7-0. E a pior derrota dos red devils nos últimos 90 anos provocou ondas de choque que ainda se sentem.

Acordaram a besta: Liverpool aplica goleada histórica por 7-0 ao Manchester United

“Fizemos uma primeira parte decente, cometemos apenas um erro já perto do descanso. No segundo tempo, desaparecemos. Não estivemos ao nosso nível, não jogámos como equipa e fomos pouco profissionais. Sim, estou muito chateado com a equipa”, admitiu o técnico Erik ten Hag à Sky Sports após o encontro. “Estou surpreendido porque, de tudo o que vi nos últimos meses e semanas, a equipa é resistente e tem uma atitude ganhadora. Na segunda parte não tivemos nada disso, não seguimos o nosso plano e não fizemos o nosso trabalho. Já vimos no passado que podemos recuperar, foi assim depois do Brentford e do Manchester City. Mas este foi um passo atrás e não podemos aceitar. É um toque de realidade e temos de aprender com isso”, acrescentou ainda o neerlandês, que sofreu o pior desaire da carreira este domingo em Anfield.

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Não mostrámos o nível a que estamos habituados. Foi um jogo muito mau, podíamos ter feito muito mais. Nos primeiros 45 minutos estivemos bem e fomos a equipa mais perigosa mas sofremos um golo perto do intervalo e não conseguimos reagir. Depois do segundo golo demos muito espaços ao Liverpool para c0ntra-atacar sabendo que é a arma mais forte deles. Sinto muita tristeza e revolta por perder na casa daquele que é um dos nossos maiores rivais. Se perder já é mau, perder assim dói ainda mais mas temos de manter o foco, foram apenas três pontos perdidos” comentou o capitão Bruno Fernandes após o encontro com o Liverpool.

No entanto, e olhando para a realidade dos jogadores, houve outros “alvos” após a derrota pesada que afastou ainda mais a equipa de uma hipotética luta pelos dois primeiros lugares da Premier League de Arsenal e City (14 e nove pontos de desvantagem com uma partida a menos). Bruno Fernandes, capitão que é tantas vezes elogiado e que poderia chegar ao golo 100 em ligas caso marcasse, foi o principal visado no final.

“Que confusão… Alguns dos comportamentos do Bruno Fernandes foram uma vergonha. Fica ali de mãos juntas, quase a perguntar ‘Por que não saio?’ O Ten Hag lidou com alguns contratempos no passado mas este é dos grandes. Acabaram em cacos, perderam a cabeça, a forma e a disciplina. Nos últimos tempos construíram alguma confiança mas isto não é normal. Esperemos que seja uma situação única. Custa. Não podes perder 7-0 como jogador do Manchester United. Os primeiros 40 minutos foram uma típica atuação de equipa visitante. A segunda parte foi uma vergonha absoluta, uma confusão, sintetizada naquilo que foi o capitão Bruno Fernandes, uma vergonha por várias ocasiões. Este não é espírito habitual da equipa e o Ten Hag tem de lidar com a situação muito rapidamente”, referiu o antigo internacional, capitão e várias vezes campeão do Manchester United Gary Neville, agora comentador da cadeia Sky Sports.

“Foi um dia chocante. Os jogadores mais experientes foram uma vergonha. Não demonstraram quaisquer capacidades de liderança. Foi um dia muito duro para o Manchester United e ainda bem que nunca fiz parte de uma derrota destas. Os jogadores ficaram com vergonha quando as coisas se complicaram, desapareceram. Quando o United vem jogar a Anfield toda a lógica vai pelos ares. É o pior estádio para se jogar mas eles não mostraram qualquer orgulho ou luta. O Liverpool foi absolutamente fantástico. Aquela vontade, aquela energia. O Liverpool voltou ao seu melhor mas este foi um dia embaraçoso para o United. Foram clínicos, implacáveis e não pararam. Os jogadores experientes do Manchester United foram aqueles que deixaram o clube mal hoje. Como jogador, o melhor [depois disto] é enterrares a cabeça na areia”, reforçou outro internacional, capitão e campeão dos red devils, Roy Keane, também na Sky Sports.

“O Bruno Fernandes empurrou o árbitro assistente. Agiu como se o seu nariz tivesse explodido quando embateu no peito de Konate. Mergulhou para tentar arrancar um penálti a Alisson. Abanou os braços quando o Erik ten Hag não o substituiu… Fez uma das piores atuações que alguma vez vimos de um jogador e certamente de um capitão na Premier. Não houve nada de profissional no seu comportamento, mais parecia uma criança petulante e o empurrão que deu no árbitro assistente devia resultar numa suspensão. Apesar do que se possa pensar do Harry Maguire, nunca se comportaria assim em campo. O Ten Hag lidou com o problema do Ronaldo e agora precisa de  lidar com o Bruno Fernandes, começando por decidir se ele merece envergar a braçadeira no jogo da Liga Europa, com o Betis. Eu penso que não merece”, criticou Chris Sutton, antigo campeão inglês pelo Blackburn, na habitual crónica escrita no Daily Mail.

Um dos poucos comentadores a “defender” o internacional português acabou por ser outro ex-internacional, capitão e campeão do clube, Paul Scholes. “Sinceramente até tive pena dele. Foi colocado em várias posições para tentar fazer o trabalho da equipa. Hoje começou na esquerda, tem jogado na direita, depois passa para o meio, está um pouco por todo o lado. Há alguns jogadores desta equipa que quando chegam os jogos grandes como este nunca estão ao nível desejável”, apontou o ex-médio à Premier League Productions.