O nome de Elían González não será estranho aos que ainda se recordam de um dos episódios mais mediáticos do final da década de 1990. Na altura, o jovem, de apenas seis anos, esteve no centro de um incidente diplomático que opôs Estados Unidos e Cuba e se tornou emblemático das tensas relações entre os exilados cubanos e o regime de Fidel Castro.

Mais de duas décadas depois do caso que o tornou célebre, González, atualmente com 29 anos, estará prestes a tornar-se um dos mais jovens membros do parlamento cubano. O anúncio surgiu no jornal comunista do país Granma, que o descreve como “um representante do que de mais valioso há na juventude cubana”.

González é um dos 470 líderes municipais nomeados para representar as suas localidades na Assembleia Nacional do país. As eleições ainda não aconteceram — estão marcadas para dia 26 de março — mas a sua escolha para o órgão legislativo cubano é expectável.

O futuro deputado é um crítico acérrimo das políticas norte-americanas, e tem ao longo dos anos alertado para a sua própria história como um exemplo: “Tal como a minha mãe, muitos outros morreram a tentar chegar aos Estados Unidos, mas a culpa é do governo norte-americano. O seu embargo injusto provoca uma situação económica interna crítica em Cuba”.

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A história é conhecida. Em 1999, quando tinha apenas cinco anos, Elián foi salvo ao largo da costa da Florida, o único sobrevivente do naufrágio de uma embarcação que transportava onze refugiados cubanos até ao território norte-americano. A sua mãe foi uma das vítimas mortais; uma vez em terra, o rapaz ficou a viver em Miami, à guarda dos tios-avós.

A batalha legal entre o pai de Elián, em Cuba, e os familiares emigrados nos EUA rapidamente se tornou uma crise política e diplomática entre os dois países. Na sua terra natal, acusavam-se os exilados cubanos na Florida de quererem roubar o rapaz, com o próprio Fidel Castro a ameaçar enviar unidades de guerrilha para o recuperar.

No final, o seu estatuto de imigrante ilegal fez com que os serviços de imigração norte-americanos decretassem a sua deportação. A 22 de abril de 2000, agentes federais armados levaram a cabo a “Operação Reunião”, uma rusga à casa dos tios-avós de Elián, em Miami, retirando o menino à força. A operação teve cobertura televisiva, e as imagens de Elián González em lágrimas correram o mundo, resultando em protestos por parte da comunidade cubana.

No regresso a Cuba, Elián foi recebido como um herói e tornou-se um símbolo do regime de Castro — tendo o próprio ditador comparecido à festa do seu 7.º aniversário, a 6 de dezembro de 2000. Os dois mantiveram-se próximos até à morte de Fidel Castro, em 2016, altura em que Elián o descreveu como “um pai e um amigo”.

Com o passar dos anos, o jovem foi-se integrando gradualmente no regime cubano. Em 2008, com 14 anos, filiou-se na Liga de Jovens Comunistas Cubanos. Mais tarde, ingressou no ensino militar, formando-se em 2016 em engenharia elétrica.

Em 2017, numa entrevista à CNN Internacional, González rejeitou a ideia de que tivesse sofrido uma lavagem cerebral, e criticou a posição dos migrantes cubanos, incluindo os seus familiares. “Acho que me teria tornado uma arma de propaganda para aquele grupo de cubanos em Miami que tenta destruir a revolução e denegrir a imagem de Cuba”, disse.