O Sporting colocou-se dentro de uma redoma em que do lado de fora estava uma época para esquecer e no de dentro estava apenas e só o Arsenal com quem se tinha que aguentar, pois, de fora, não podia vir nenhum auxílio. O isolamento permitiu uma exibição que, não sendo de outro mundo, foi de um mundo à parte daquilo que se tem visto a equipa de Rúben Amorim fazer.

Quem arriscasse dizer que a receção ao Arsenal era o desafio mais exigente da época para o Sporting, fazia-o sem grande risco. Afinal, era o líder da Premier League que estava do outro lado. No entanto, os gunners já demonstraram que não são uma equipa intransponível. Na última jornada da Liga Inglesa, diante do Bournemouth, só para lá do minuto 90 conseguiram garantir a vitória. O problema estava no caráter inédito do feito que se pedia ao Sporting: os leões nunca conseguiram ganhar ao Arsenal. Também ainda não foi desta vez, na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, que o conseguiram fazer ainda que tenham assinado com a esperança um seguro de vida válido pelo menos até à visita ao Emirates.

Héctor Bellerín falhou o encontro diante do clube que representou durante dez anos. O lateral tem apresentado problemas no joelho e não foi a jogo. Assim, o lado direito da defesa ficou entregue a Ricardo Esgaio. Na ausência de Ugarte devido a castigo, Rúben Amorim recuou Pedro Gonçalves para o meio-campo, colocando Francisco Trincão no tridente ofensivo, junto de Paulinho e Edwards. Na esquerda, Matheus Reis ocupou o lugar de Nuno Santos.

O Arsenal tem pela frente uma ponta final de Premier League onde ainda vai defrontar Liverpool, Manchester City e Chelsea. Mikel Arteta teve então que virar mestre em gestão. Odegaard, uma das maiores figuras dos londrinos, não esteve na ficha de jogo. Gabriel Jesus, Nketiah e Troussard também não foram opção para o técnico espanhol. Em sentido contrário, Kiwior fez a estreia absoluta nos gunners. Ainda assim, a maior surpresa foi mesmo a inclusão de Fábio Vieira no onze inicial. Na antevisão ao encontro, o companheiro de equipa Gabriel Martinelli referiu que o jogador formado no FC Porto tinha viajado com a equipa, mas estava doente, dando a entender que podia não ir a jogo. A verdade é que o português entrou mesmo de início e também no banco esteve outro português: Mauro Bandeira, 19 anos.

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Arteta trouxe a jogo uma equipa dinâmica. Na direita, Saka e Fábio Vieira permutavam com frequência, sendo que sempre que um ocupava o espaço interior, o outro movimentava-se no espaço interior. Do outro lado, Zinchenko fazia de lateral no momento defensivo, mas, com bola, era Xhaka que abria junto ao flanco.

Ficha de Jogo

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Sporting-Arsenal, 2-2

Oitavos de final da Liga dos Campeões – 1.ª mão

Estádio de Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Tobias Stieler (Alemanha)

Sporting: Adán, Esgaio (Diomandé, 76′), St. Juste, Coates e Inácio, Matheus Reis, Morita, Pedro Gonçalves, Trincão (Nuno Santos, 71′), Edwards (Fatawu, 89′) e Paulinho (Chermiti, 76′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Neto, Rochinha, Tanlongo, Arthur Gomes, Jovane Cabral, Mateu Fernandes e Dário Essugo

Treinador: Rúben Amorim

Arsenal:  Turner, Nelson (Smith-Rowe, 71′), White, Saliba, Kiwior (Gabriel Magalhães, 71′), Zinchenko (Tomiyasu, 63′), Jorginho (Partey, 71′), Xhaka, Fabio Vieira, Saka e Martinelli

Suplentes não utilizados: Ramsdale, Hillson, Holding, Mauro Bandeira Sagoe Jr., Smith e Walters

Treinador: Mikel Arteta

Golos: Saliba (22′), Gonçalo Inácio (34′), Paulinho (55′) e Morita (autogolo, 62′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Zinchenko (24′), Coates (24′), Martinelli (43′) e Morita (58′)

Mesmo com as tentativas do Arsenal desbloquear o bloco defensivo do Sporting, sempre bem adiantado no terreno e a tentar negar a ligação de jogo interior dos gunners, os londrinos perceberam desde logo que o estatuto de líderes da Premier League de nada lhes valia no contexto da Liga Europa. Pedro Gonçalves correu rápido para fugir à defesa inglesa que, na hora de rematar, a tentativa saiu tão transviada quanto a sua intenção de marcar.

A partir daí, o Arsenal viveu um momento de conforto que lhe permitiu crescer. As grandes equipas tendem a ser letais. Não avisam do perigo que podem criar e explodem sempre sem nota prévia. Canto de Fábio Vieira e Saliba (22′) saltou, cabeceou e marcou. Ficava o aviso para os comandados de Rúben Amorim: recuar no terreno era também dar passos atrás na possibilidade de vencer, tal a capacidade dos gunners para, com espaço na primeira fase de construção, gerarem situações de perigo.

O Sporting voltou a subir as linhas, recuperando a estratégia que levou os verde e brancos a estarem por cima no arranque do jogo. Resultou de novo. Os leões aproximavam-se da área e Gonçalo Inácio esteve perto de marcar através de um remate de longe. Não conseguiu devido à intervenção de Matt Turner, o guarda-redes do Arsenal na Liga Europa, que cedeu canto. Mal sabia o norte-americano o que aí vinha. Bola parada cobrada e Gonçalo Inácio (34′) vingou-se ao chegar ao empate de cabeça.

O jogo ganhou proporções eletrizantes. Oportunidade cá, oportunidade lá. Marcus Edwards temperou a partida com uma dose de discernimento e uma pitada de brilhantismo. O passe do inglês entre as pernas de Zinchenko encontrou Pedro Gonçalves que escapou a uma dupla marcação e rematou para defesa de Turner. Mais uma vez, os esforços do guardião não serviram de nada. Na recarga, Paulinho (55′) colocou o Sporting na frente.

Desta vez, os leões não relaxaram e continuaram ameaçadores até com hipóteses para alargarem a vantagem. Paulinho seguia sozinho para a baliza e, no caminho, rematou para fora. As condições eram boas, mas a finalização acabou por sair mal. Não marcou o Sporting, marcou o Arsenal. Morita corria para a defesa e levou em cheio com um remate de Xhaka. A bola mudou de direção e, tocada pelo japonês, foi para dentro da baliza de Adán (62′). Contra isto, o guarda-redes espanhol do Sporting, que realizou uma das melhores exibições da época, não conseguiu fazer nada.

Apesar do empate a dois, o Sporting vai a Londres com a eliminatória em aberto e com a possibilidade de passar aos quartos de final. Os leões não chegam a uma fase tão adiantada de uma competição europeia desde 2017/18.